- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

1.107.44.004938

Juana Escudero Lezcano é uma espanhola que conta, atualmente, 53 anos de idade. Mora na cidade de Sevilha. Há poucos dias requereu ao sistema judicial a abertura de sua tumba, no cemitério local, a fim de que possa ser comprovado o fato de que ela ainda vive.

Tudo começou no dia 13 de maio de 2010, quando, em função de algum equívoco ainda não identificado, lançaram seus dados pessoais no registro 1.107.44.004938, relativo ao óbito de uma outra senhora. Ou seja: a partir daquele dia Juana, aos olhos da administração pública, estava morta!

Nos últimos sete anos, atividades simples como valer-se do sistema de saúde pública ou renovar a habilitação para conduzir veículos passaram a tomar ares de um dos trabalhos de Hércules – afinal, mortos não vão ao médico e nem conduzem veículos!

Especialmente dramáticos foram os dias que se seguiram ao falecimento de seu marido – legalmente, um viúvo – nos idos de 2011. Ela não podia ser declarada viúva de um viúvo de si própria, eis a realidade!

Por incrível que pareça, chegamos a 2017, em plenos portais do século XXI, sem que Juana tenha conseguido sair do estado de “zumbi” – isto numa era dita tecnológica, na qual já prepara-se a humanidade para ir a Marte. Foi quando, desesperada, decidiu ir aos tribunais.

Enquanto isso, do outro lado do planeta, a China começa a reagir à sanha dos burocratas, transferindo o ônus da produção de informações solicitadas a particulares pela administração pública à própria administração pública!

Este exemplo, segue-o Portugal. Não faz muito tempo, decidiu-se que a burocracia estatal não pode solicitar a particulares informações que o Estado como um todo já detenha – eis aí uma notável integração entre os diversos órgãos da administração pública.

Fiquei a lembrar deste quadro há alguns dias, quando fui convocado a apresentar, em uma repartição pública, um certo “atestado de residência”, definido este como uma conta qualquer – de telefone, energia, água, ou seja lá do que for – em meu nome. Cheguei à conclusão de que a Administração Pública precisa ser informada por empresas sobre o local de residência de um cidadão contribunte e eleitor registrado!

É assim, entre idas e vindas, que a humanidade trava uma imensa e silenciosa luta contra o poder da burocracia, um poder de vida e de morte.