- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

A criminalidade continua a cair muito

Uma boa notícia: os índices de criminalidade violenta não param de cair – só no ano passado registrou-se uma queda de 12%. Aliás, desde 2001 os ingleses comemoram seguidas quedas no número de crimes violentos em seu país. Diante destes dados a pergunta é inevitável: quais as causas? Ou, sendo mais direto, qual a receita?

A primeira delas, por mais incrível que possa parecer, foi reduzir a exposição da população ao chumbo. Segundo constatado através de pesquisas científicas, a exposição a este metal traz malefícios à saúde mental, reduz os índices de QI e pode conduzir a comportamentos agressivos ou irracionais.

A quem pensar ser este apenas um detalhe, ou alguma curiosidade, sugiro pensar duas vezes: a exposição ao chumbo durante a gravidez, por exemplo, reduz sensivelmente a circunferência da cabeça dos fetos. Trata-se de um metal altamente tóxico, uma neurotoxina bastante potente, que lamentavelmente acha-se presente em muitos brinquedos, tintas, batons, máquinas e até no ar poluído de nossas cidades!

Acredite: só por conta do chumbo presente nas tintas que utilizamos nada menos que 600.000 pessoas contraem algum tipo de debilidade, e 143.000 morrem a cada ano. Não por acaso a ONU busca eliminar este componente das tintas utilizadas em 30 países até 2015.

O passo seguinte também foi simples: aumentar os preços do álcool, de forma a reduzir o consumo. No Canadá, por exemplo, o álcool tem sido estimado como o fator de maior contribuição em dois a cada três homicídios. Na Finlância, ele está presente em nada menos que 80% dos homicídios.

Alguém perguntaria: e as drogas? A resposta: apenas 17% dos crimes violentos são cometidos por pessoas que usaram drogas ilícitas – foi o que encontraram pesquisadores britânicos ao final de um extenso levantamento.

Voltando ao álcool, só por conta de um aumento de preços o número de vítimas de crimes violentos caiu 12% – foram 32.000 pessoas a menos nos hospitais ingleses em 2013.

Uma terceira medida adotada foi igualmente simples: dificultar o ato de cometer um crime. Fiquemos com o exemplo do Uruguai: a simples instalação de câmeras de vigilância reduziu os índices de roubos de algumas regiões em até 46%. Adicione a isso uma melhor distribuição da força policial, e os resultados não tardarão a aparecer.

Diante destes dados alguém diria: aqui no Brasil seria diferente, por conta da pobreza. Será? A pobreza lá no Reino Unido só tem feito aumentar: um a cada oito ingleses não consegue sequer se alimentar direito, e a cada dia de inverno 200 morrem de frio por falta de recursos para pagar o aquecimento doméstico.

Seria a rigidez do sistema legal? Que nada! 30% dos presos já reincidiram pelo menos 15 vezes anteriormente. Quer mais? 97% dos crimes cometidos no Reino Unido não chegam sequer a ser objeto de investigação, 58% dos presos reincidem menos de dois anos após serem soltos e 41% das penas de multa lá impostas simplesmente não são pagas.

A quem não acreditar transcrevo as palavras do Inspetor-Chefe das prisões inglesas: “as prisões são uma porta giratória para muitos criminosos, e tem falhado em retirá-los da vida do crime”. Ainda não se convenceu? Então vamos lá: a cada cinco ladrões, quatro se safam com penas absolutamente ridículas – aliás, 10% deles sequer para a cadeia vão.

Não estou, aqui, a isentar de culpa o Estado – toda e qualquer impunidade é errada, e fique isto muito claro. Apesar entendo já ter passado da hora de estudarmos o fenômeno do crime sob parâmetros mais científicos e menos emocionais.

Estaria nossa sociedade saudável fisica e mentalmente? Eis aí, arrisco eu, a porta de entrada para uma nova fase no combate, digo, no tratamento do crime.