- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

A Lei Áurea

Dia desses li um relatório intitulado “Um Pesadelo para Trabalhadores”, relativo às condições sob as quais são produzidos brinquedos. A fonte de dados: quatro grandes empresas transnacionais que operam na China.

Apurou-se que os escravos, digo, os trabalhadores destas empresas recebem menos de um Euro por hora – uns R$ 4,42. Resolvi fazer algumas contas, e cheguei a R$ 35,43 por uma jornada de trabalho de oito horas. Como eles trabalham seis dias por semana, receberão por cada uma delas R$ 212,61 – ou R$ 850,45 por mês.

A “saída” para melhorar os rendimentos são as horas extras – 175 por mês em média, ultrapassando umas cinco vezes o limite legal. Apurou-se que nos momentos de maior produção as jornadas chegam a 11 horas diárias – lembrando sempre serem seis dias por semana.

A investigação revelou, igualmente, que faltam equipamentos básicos de segurança, considerado o manuseio de produtos químicos altamente nocivos para a saúde – as consequências vão de envenenamentos até leucemia.

Como a maioria dos escravos, digo, trabalhadores, vem do interior, a possibilidade de uma moradia digna é remota, considerado o “salário” que recebem – assim, sujeitam-se a dividir uma senzala, digo, um quarto, com em média outros sete infelizes. Algumas destas dependências sequer de água quente dispõem.

A maior partes destes escravos, digo, trabalhadores, são mulheres na faixa dos 45 anos de idade, reputadas mais dóceis e preocupadas com seus filhos. Os “contratos de trabalho” são assinados em branco.

Aos resultados: uma boneca feita ali é vendida por 39 Euros na Europa. O custo de produção: 16 Euros. O que recebe por ela cada escravo, digo, trabalhador: 0,01 Euro.

Foram empresas assim que destruíram, aniquilaram, arrasaram e massacraram larga parte do parque industrial brasileiro. Foi por conta delas que muitos brasileiros perderam seus empregos. Dizem alguns ter sido obra de uma certa “globalização”. Isto não é verdade. Afinal, sem que haja competição justa não se pode falar em globalização – apenas em exploração pura e simples.

Dizem alguns que em 1888 lançou-se na ilegalidade a escravidão. Será que esta, por vias oblíquas, ainda não está a ser praticada em solo tupiniquim? Afinal, que estranho país seria este que declara-se inimigo da escravidão, mas não do que esta produz?