- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Amazônia: precisamos saber

Há poucos dias li em A Tribuna um registro muito sério: “Índios renegam brasileiros. O Comando do Exército confirma: brasileiros só podem circular entre as 6 e as 18 horas em um trecho de cerca de 200 Km, que passa pela reserva indígena Waimiri Atroari, na rodovia Boa Vista-Manaus, mesmo assim pagando pedágio. Nas demais 12 horas, o trecho só é permitido a estrangeiros. O bloqueio dos índios – que não falam português, só a língua nativa, o inglês ou o francês – tem apoio da Funai e de ONGs estrangeiras”.

E prossegue a nota: “Também chegou ao Comando do Exército denúncia de que a bandeira do Brasil não é hasteada em algumas reservas indígenas: só as estrangeiras. Cerca de 70% do estado de Roraima são constituídos de reservas indígenas e, nelas, reinam absolutas dezenas de ONGs estrangeiras” (edição do dia 28/01, coluna Cláudio Humberto).

Ainda sobre este tema li também em A Tribuna: “Soberania ameaçada. O cientista Adalberto Luís Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, revelou na Comissão de Educação da Câmara que 70% dos conhecimentos produzidos sobre a região têm origem em outros países. “Se saber é poder, a soberania na Amazônia está reduzida a 30%”, advertiu”.

Não tenho amplo conhecimento de todo o exposto nestas notas, mas posso testemunhar um fato: o de uma rodovia federal fechada para brasileiros. Estive em Roraima há alguns anos e me levaram até o início dela, a fim de que, com meus próprios olhos, a visse bloqueada nas circunstâncias acima anotadas.

A verdade é que o noticiário a respeito é atípico. Ora lemos informações sobre desmatamento intenso e extenso da Amazônia por colonos e até mesmo índios, ora sobre a riqueza da região, e já li notícia até sobre a formação de uma “tropa verde” pelos Exército dos EUA, destinada à “proteção da floresta” (revista IstoÉ, 1997).

Ora se apontam índios no Amapá que falariam francês e sob cujos pés repousariam riquíssimas reservas minerais exploradas por estrangeiros, ora se denuncia o desaparecimento do equivalente a um campo de futebol a cada 8 segundos em função do desmatamento ilegal. O que há de real nisso tudo?

Já li, também, que substâncias naturais extraídas de nossas flora e fauna estariam na metade dos pedidos de patentes na Organização Mundial de Propriedade Industrial – o que seria ótimo, não fosse o fato de terem sido apresentados por empresas européias, japonesas e norte-americanas. Isto é muito sério: 40% dos medicamentos do planeta têm seus princípios ativos retirados da natureza.

Li ainda que através de uma exploração racional da Amazônia poderíamos triplicar o nosso Produto Interno Bruto sem destruí-la – seriam US$ 650 bilhões em petróleo, US$ 500 bilhões em medicamentos e cosméticos, US$ 50 bilhões em minérios, e até US$ 13 bilhões em turismo. Será verdade? Se for, por que não o fazemos?

Falou-se que só o ouro de Carajás pagaria toda a dívida externa brasileira. Bem, a dívida está aí. E cadê o ouro? O que foi feito dele? A triste verdade é que sabemos mais sobre a vida de atrizes norte-americanas do que sobre a Amazônia!

Ora, dado falarmos da integridade nacional e de reservas naturais estimadas em trilhões de dólares, tudo isto deveria merecer no mínimo uma apuração séria seguida de ampla divulgação sobre seus resultados. O que está acontecendo lá, afinal? Eis aí algo que interessa a todos os brasileiros.

Mas nada! Os anos vão se passando, e nada! Este assunto é tratado apenas como algo incômodo, que preferimos ignorar para vivermos felizes. Dormimos em berço esplêndido.

O fato é que se estas notícias forem infundadas ou exageradas talvez uma leve correção de rumo baste. Mas se estas denúncias forem verdadeiras estaremos ignorando, e de forma perigosa, o conselho de Leonardo da Vinci: “é mais fácil resistir no início do que no final”.