- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Aos perseguidos

Dia desses um diplomata egípcio, chefe de uma delegação diplomática, descreveu os negros africanos como “cachorros e escravos” durante uma conferência na cidade de Nairobi.

Longe dali, na Índia, a diplomata norte-americana Maureen Chao causou revolta ao pronunciar, às gargalhadas, diante de uma sala de aula repleta de crianças, as seguintes palavras: “Eu estava em uma viagem de trem de 24 horas de Nova Delhi até Orissa. No entanto, após 72 horas, o trem ainda não havia chegado ao seu destino… e minha pele ficou suja e escura como a de vocês”.

Na Itália, o senador Roberto Calderoli, referindo-se à ministra Cecile Kyenge, de origem africana, assim expressou-se: “Eu amo animais, e quando eu vejo fotografias de Kyenge não consigo deixar de pensar, mesmo sabendo que ela não é um, nas feições de um orangotango”.

Na Suíça, um policial, ao solicitar os documentos de um argelino, chamou-o de “porco estrangeiro” e “refugiado nojento”. Processado por racismo, viu-se absolvido por um Tribunal Federal, segundo o qual “estes insultos não se enquadram na lei antirracista, uma vez que não se dirigem a uma etnia, raça ou religião em particular”.

Nossa escala seguinte é a Coreia do Norte, país no qual o governo veiculou como propaganda oficial a seguinte entrevista: “A forma pela qual Obama [presidente dos EUA] parece me causa nojo. Ele parece um macaco africano com a cara preta… e orelhas de abano. E ele age como um macaco em um zoológico africano”.

Em Uganda, o jornal “Rolling Stone” notabilizou-se por publicar, em sua página principal, relações de nomes de homossexuais, juntamente com suas fotografias e endereços, seguidas da expressão “enforquem-nos”. Segundo consta, das pessoas que tiveram o nome publicado só não foram linchadas as que abandonaram suas casas e fugiram.

Na Austrália, não faz muito tempo, apareceu nas lojas um “videogame” cujo objetivo é matar índios. A propósito deles, um estudo do Banco Mundial, realizado entre 2005 e 2010, constatou que são “os mais afetados pela pobreza, baixo nível educacional e maior incidência de doenças”, sendo “mais discriminados que outros grupos”.

É diante de uma humanidade tão pequena e medíocre que devemos, cada um de nós, repetir sempre, e em voz alta, o brado de Lamartine: “eu sou da cor daqueles que são perseguidos”.