- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Contrastes

Israel é um diminuto país do Oriente Médio. Tem uma população de pouco menos que seis milhões de habitantes (cerca de cinco milhões e oitocentos mil), sendo oitenta por cento judeus, e os outros vinte por cento, árabes e povos de outras origens. Ocupa uma área de 21 mil quilômetros quadrados, ou seja, menos da metade do Espírito Santo.

O que mais chama a atenção, entretanto, é a coragem, firmeza e personalidade que os judeus demonstram perante todos os países do mundo.

Frente aos protestos, ameaças e reclamações de seus vizinhos árabes (que possuem mais de 200 milhões de habitantes), e diante do inconformismo da ONU e de todo mundo civilizado, os judeus, indiferente e sobranceiramente, matam palestinos, dia e noite, e, como todos os meios de comunicação exibem constantemente, ocupam suas terras com tanques e metralhadoras. Todo o mundo vê o poderoso exército judeu avançando contra crianças e mulheres, ou contra homens fracos, famintos e desarmados.

Chega a ser emocionante o quadro pavoroso de uma guerra travada entre tanques que atiram bombas imensas, e uma população, desarmada, revidando com pedradas. Os palestinos, sem outro meio de defesa à sua disposição, partem para o suicídio, numa atitude, como se vê, de puro desespero.

O mais curioso é que esses “homens-bomba”, dentre os quais notam-se rapazes e moçinhas em pleno vigor da juventude, são simplesmente tachados de terroristas e seus tresloucados atos servem de justificativa para novas e repetidas invasões dos seus territórios.

Desde que começou a última crise, nos últimos meses do ano passado, já houve várias e repetidas decisões – algumas delas unânimes – do Conselho de Segurança da ONU, e da ONU mesmo, exigindo o cessar fogo e a desocupação das terras palestinas por Israel.

Mas, o mais notável é que nesse mesmo espaço de tempo, o todo poderoso Presidente Bush deu vários ultimatos a Israel, exigindo peremptoriamente, o restabelecimento da paz naquela região, e a retirada imediata das tropas israelenses dos territórios palestinos.

O Presidente dos Estados Unidos, a mais poderosa nação deste globo terráqueo, mandou seu Secretário da Defesa, o ínclito General Colin Powell, que seguisse, com armas e bagagens, até Israel, para impor incondicionalmente essa retirada.

O eminente Ministro norte-americano retornou do jeito que chegou: de mãos abanando. Sem dúvida os judeus receberam o grande herói norte-americano com parada militar, bandas marciais e músicas patrióticas, enquanto, nos gabinetes, caiam às gargalhadas, achando muita ousadia os americanos mandarem emissário fazer exigências aos judeus.

Chega a ser triste constatar-se que o corajoso e aguerrido Presidente Bush, em sucessivas declarações para o mundo todo, tenha pedido, depois exigido, e em seguida estabelecido prazo improrrogável de três dias, no máximo, para que Israel cumprisse suas ordens. Tudo debalde. Os judeus, corajosamente, audaciosamente, e firmemente, não tomaram sequer conhecimento de suas súplicas e ameaças.

Tudo isso nos vem à memória quando se observa o que aconteceu com nosso Embaixador José Mauricio Bustani, que era presidente da Organização para a Proscrição das Armas Químicas – órgão internacional integrante da ONU, sediado em Haia, Holanda – e que teve a audácia de não obedecer às ordens dos norte-americanos.

O diplomata brasileiro – país de cerca de 180 milhões de habitantes – que chefiava aquele organismo internacional, de caráter multilateral, declarou claramente que “o diretor geral da OPAQ não pode aceitar ordens dos Estados Unidos”.

Nosso embaixador recebeu apoio de várias camadas da população mundial, inclusive da Inglaterra, onde artistas e intelectuais redigiram uma manifestação “pela manutenção do diplomata brasileiro” e pedindo ao governo britânico que coloque a paz mundial à frente da relação especial com os americanos, num esforço para combater o “unilateralismo dos Estados Unidos”.

Diante da pressão americana, das 98 nações que compõem aquele órgão internacional, 91 votaram contra o brasileiro, só sendo certos, mesmo, os votos do Brasil, Rússia, China, Cuba e Irã, porque os demais se abstiveram.

Notável, sem dúvida alguma, a personalidade e o caráter dos judeus. Enquanto 91 das nações mais ricas do mundo destituem, injustamente, um simples Embaixador brasileiro da presidência de um órgão da ONU, de importância secundária, Israel, um pequeníssimo país, afronta e enfrenta a arrogância dos todo-poderosos senhores do mundo. Temos aí, sem dúvida, uma reedição da passagem bíblica de Davi contra Golias.

Talvez os que simplesmente disseram “amém” sigam o que dizia Wenke: “Ser corajoso é fazer o que se espera que se faça, sem pensar muito. Mas para ser covarde é que é preciso coragem”.