- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Curiosidades

Há fatos, que têm acontecido ultimamente a brasileiros, em diversas recantos do mundo, que merecem ser ressaltados:

  1. Ao chegarem a Israel duas baianas em férias, foram sumariamente presas. Permaneceram trancadas durante dez horas. Segundo noticia a imprensa “as estudantes viajaram de férias, num roteiro que começara em Portugal e incluiria ainda Suiça e França. Mesmo com as passagens indicando o trajeto e as datas de permanência em cada país, elas foram presas, trancadas num quarto sem janelas no aeroporto e embarcadas de volta para o Brasil com o carimbo “deportado” nos passaportes” (O Globo, 11.6.98, pág. 8). Acrescenta o jornal que “o Ministério das Relações Exteriores vai pedir explicações ao Governo de Israel sobre a deportação das universitárias baianas Cristiane Carvalho, de 27 anos, e Vera Santana, de 28, depois de dez horas presas no Aeroporto de Tel Aviv”.
  1. O brasileiro Luiz Felipe Lourenço, de 25 anos, “está tetraplégico, com a quinta vértebra quebrada. Ele acusa um carcereiro da prisão de Champ-Dollon, em Genebra (Suiça), de tê-lo agarrado pela calça e pela blusa e de jogá-lo violentamente de cabeça contra uma parede de uma pequena cela, aparentemente um lugar de transição para o cárcere. Felipe havia se recusado a entrar lá, porque o lugar era muito pequeno”.

Segundo o jornal, “a Polícia de Genebra, na Suiça, prendeu o brasileiro Luiz Felipe Lourenço, de 25 anos, no sábado passado, sob a acusação de ter roubado um cartão de crédito. Levado para a delegacia, ele teria sido espancado pelos policiais que o prenderam no apartamento da namorada. De tanto apanhar, ficou tetraplégico, com as vértebras esmagadas” (“O Globo”, 10.6.98, pág. 8).

Se isso tivesse se passado no Brasil, inúmeras organizações internacionais, e talvez até mesmo a ONU, já teriam se manifestado, protestando veementemente e da forma mais enérgica possível, contra o “barbarismo da cena”. Seria um verdadeiro “Deus nos acuda”. Haveria clamores imediatos, exaurindo-se todos os recursos possíveis e imagináveis para a prisão dos culpados por atos tão hediondos.

Como tudo se passou na Suiça, exemplo de cultura, civilidade e democracia, ficou tudo mergulhado no mais denso silêncio.

  1. Já no que se refere a Portugal, não há sequer necessidade de relembrar notícias e comentários os mais diversos: centenas e milhares de brasileiros já foram presos, humilhados, torturados, e devolvidos ao Brasil, ao chegarem àquele País. Isso, sem se falar nos dentistas que saíram daqui pra lá, acreditando no preceito constitucional que assegura igualdade de direitos entre os dois povos, no regime de “reciprocidade” (CF, art. 12, § 1º), e vivem constrangidos, sujeitos a processos criminais, quando não são violentamente despachados de volta para cá.

Tudo isso são imagens dolorosas, principalmente no que se refere a Portugal. Aqui os portugueses sempre foram recebidos de braços abertos. Nem na Lei, nem nos usos e costumes adotados secularmente, há, no nosso País, qualquer diferença entre brasileiros e portugueses. Se algum acontecimento esporádico nos enjoava e retraía, ia contra a torrente de amor e simpatia que sempre envolveu os dois povos.

Basta dizer que há algum tempo foram barrados alguns professores portugueses, ao chegarem ao Brasil, tendo sido forçados a retornarem, por “documentação irregular”, segundo alegou nossa fiscalização alfandegária.

Pois bem. Quando o caso tornou-se público, o Governo brasileiro apressou-se a, humildemente, pedir desculpas, e a Embaixada brasileira forneceu aos ilustres representantes da cultura lusitana passagens de ida e volta, para virem nos honrar com suas presenças. Aqui, como não poderia deixar de acontecer, foram festejados calorosamente, insistindo-se para que “esqueçam o lamentável incidente”.

Longe já se vão os tempos em que brasileiros eram recebidos com afeição, amor e entusiasmo, quando chegavam a Portugal. Lembro-me das multidões, alegres e felizes, que acolheram o Presidente Juscelino Kubischeck na sua visita àquele País: a Polícia encontrou imensas dificuldades para controlar os milhões de portugueses que, numa cativante demonstração de amor à nossa Pátria, emocionados, com lágrimas nos olhos, queriam abraçar, beijar, tocar e carregar o nosso Presidente.

Mas as discriminações que nos alagam, nada respeitam e ameaçam afogar tudo, não ficam por aí: nos Estados Unidos e Inglaterra nossos produtos agrícolas são praticamente proibidos, porque teriam sido produzidos com o uso de agrotóxicos. Brasileiros presos e algemados, recambiados para cá “debaixo de vara”, virou rotina. Milhões são proibidos de entrar.

O mais curioso, entretanto, é que esses fenômenos – por mais espantosos que sejam – passam-se numa época em que tanto se realeja a palavra “globalização”, proclamando-se aos quatro ventos o inter-relacionamento cada vez mais íntimo entre todos os povos do mundo.

Isso nos faz lembrar aquelas palavras de Heine: “Conheço a forma, conheço o texto. Sei quais foram os que o escreveram. E sei que em segredo bebiam vinho, e em público louvavam as virtudes da água”.