- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Da independência

Já no início do século 20, Rui Barbosa denunciava uma trama existente entre a Bolívia e os Estados Unidos, mediante a qual a Bolívia, com a garantia do Exército norte-americano, reivindicaria como seu o atual território do Acre, e depois receberia 40 milhões de dólares para transferí-lo aos Estados Unidos.

Acrescenta que, se a notícia fosse verdadeira, veríamos “a cunha americana cravada no coração da América do Sul, no seio do Brasil”. E: “Mais cedo ou mais tarde, pois, se não for agora, teremos provavelmente de assistir à americanização do Acre; e quando uma das partes receber a presa, a outra o preço, ao governo brasileiro só restará consumar o que já se inicia: atar as mãos ao Amazonas, tapar a boca à imprensa e mandar a armada brasileira fazer guarda à nossa desintegração territorial, ao exército brasileiro bater-se pela mutilação da pátria como em 1888 quiseram que ele se batesse pelo cativeiro”.

Foi graças à habilidade, cultura, e, sobretudo, patriotismo do Barão do Rio Branco que conseguimos salvar o Acre e manter a unidade nacional.

Além disso, nunca é demais relembrar que o Barão do Rio Branco evitou que a França tivesse acesso, pelo Amapá, às margens do Amazonas, partilhando sua desembocadura.

Esse grande e imortal brasileiro não pregou a guerra, não falou arrogantemente, nem tampouco fêz ameaças. Tão só e simplesmente, saiu diplomaticamente de país em país, e, nos Estados Unidos, após seguidas reuniões, conseguiu convencer o Secretário de Estado, Mr. Elihu Root, da utilidade de serem mantidos os fraternais laços de amizade e cooperação entre os dois países, respeitando-se nossos interesses fundamentais.

Graças ao trabalho persuasivo do Barão do Rio Branco os Estados Unidos decidiram não se aliarem à Bolívia, como também concordaram com a compra, pelo Brasil, do controle acionário do “Bolivian Syndicate”, que era proprietário dos seringais e monopolizava o domínio de toda a região.

O Barão do Rio Branco obteve êxito, também, em induzir o Presidente Cleveland, dos Estados Unidos, a defender os interesses brasileiros na questão de nossa fronteira sul, salvando cerca de trinta mil quilômetros quadrados numa contenda com a Argentina. Sem isso, o Rio Grande do Sul teria ficado encravado, ligado ao Brasil por uma espécie de “Corredor Polonês”, através de um pedaço de Santa Catarina.

Rio Branco, com seu esforço extraordinário, sua visão de estadista e patriota autêntico, tranquilizou e estabilizou nossas fronteiras na bacia platina e na bacia amazônica.

Esses exemplos históricos comprovam cabalmente, como se outros tantos episódios não bastassem, que as relações do nosso País com os Estados Unidos não podem se basear em alinhamento automático, mas, sim, sobretudo, no mútuo entendimento. Para isso exige-se, sobretudo, a sabedoria dos nossos homens públicos.

Mas essas lições imensas de sabedoria e de vitórias gloriosas obtidas numa diplomacia bem conduzida, não vamos encontrar apenas no nosso País.

Temos, assim: a França, após a derrota de Napoleão, ficou humilhada e estraçalhada. Quando os vencedores – Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria-Hungria – se reuniram em Versalhes, sobressaiu-se a figura de Talleyrand, Embaixador francês, que conseguiu convencer os representantes das potências vencedoras, que, se quisessem uma paz verdadeira, teriam que respeitar os direitos e tradições da França. Graças às suas brilhantes e veementes argumentações seu País saiu fortalecido e respeitado daquele conclave, ganhando a paz, embora tivesse perdido a guerra.

Um exemplo mais ou menos semelhante vamos encontrar após a Segunda Guerra Mundial. Findos os combates, a Alemanha, invadida e destruída, acabou dividida em quatro zonas: americana, russa, francesa e inglesa. Pois bem. A genialidade alemã, através da persistência e habilidade, conseguiu fazer ressurgir, daquele caos, um país poderoso, que, hoje, volta a influir nos destinos do mundo.

Por aí vemos claramente visto (como dizia Vieira), que aquilo de que mais precisamos, nessa difícil quadra da vida nacional, é de diplomacia, e, sobretudo, nacionalistas autênticos, despidos de preconceitos e sem o visgo da americanofobia, visando sempre e permanentemente a defesa dos nossos legítimos interesses.

Conforme bem dizia Martinho Lutero, “a guerra é a maior praga que pode afligir a humanidade. Destrói a religião, destrói os Estados, destrói as famílias. Qualquer calamidade é preferível a esta” .

E, Thomas Hobbes: “A lei primeira e fundamental da natureza é buscar a paz”.

Estes, não temos a menor dúvida, são objetivos permanentes tanto do Brasil como dos Estados Unidos.