- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Dignidade de lá

Dia desses li que um juiz de Hengshui, no norte da China, determinou às escolas particulares do ensino secundário que não aceitem matrículas de alunos cujos pais sejam considerados inadimplentes pelo sistema judicial.

Cabe às escolas particulares, pois, verificar se os familiares de cada aluno estão em algum cadastro de devedores definido judicialmente. Lê-se, na decisão enviada, o seguinte trecho: “Nós compreendemos o amor pelas crianças, mas a dignidade da lei e a autoridade do sistema judicial devem ser respeitadas”.

Que não se pense, sequer por um instante, tratar-se de alguma atitude isolada – muito pelo contrário, faz parte de um conjunto de medidas destinadas a reforçar a autoridade dos vereditos do sistema judicial chinês.

Assim, por exemplo, recentemente produziu-se um vídeo com seis minutos de duração exibindo nada menos que 100 inadimplentes, a ser projetado nos cinemas locais no início de cada sessão. É isso mesmo: as pessoas contemplarão o nome e a face de cada um deles!

Na cidade de Nanning, no sul do país, tal exposição vai às ruas, afixada nas laterais dos ônibus que por lá circulam. Em Jinan, no leste, optou-se por um imenso painel instalado ao lado da estação de trem. Assim, seja pelos cinemas, ônibus ou lugares públicos, lá estarão os inadimplentes inevitavelmente expostos à execração pública.

Mas talvez a medida mais incrível seja aquela que altera o som das chamadas de celular. O sistema judicial de Guanyun, em parceria com as operadoras de telefonia celular, altera o toque de chamada dos telefones dos inadimplentes, alertando eventuais familiares, amigos, sócios e clientes para o fato de que este tem dívidas a pagar. Literalmente, esta é a mensagem que ouvirão: “O assinante para quem está a ligar foi colocado numa lista negra pelo Tribunal de Guanyun por não pagar suas dívidas. O Tribunal agradece o seu apoio”. Este toque não poderá ser cancelado e aparecerá em todos os aparelhos móveis registrados pelo devedor.

Talvez, diante destes exemplos, em um momento tão grave da vida nacional, no qual imperam a descrença e a intolerância, devêssemos olhar nosso país e suas instituições com um pouco mais de carinho e esperança! Que busquemos todos, com sabedoria, construir ao invés de destruir. Corrigir, jamais repudiar. Amar, e não odiar.