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Eremildo Tupiniquim, o consumidor

Eremildo Tupiniquim é um brasileiro típico, de classe média, fascinado por tecnologia! Sempre acompanhou, entusiasmado, todos os lançamentos da indústria de informática.

Eremildo, tal qual a famosa “Velhinha de Taubaté”, personagem imorredoura de Luis Fernando Veríssimo, vibrou com o advento da “globalização”. Ele chegou a ter espasmos de alegria ao ser informado de que o mundo estava se tornando uma “aldeia global”, da qual o Brasil fazia parte!

Havia, claro, um preço a pagar: nosso melhor café, nossos melhores calçados, nossos maiores camarões e lagostas, nosso mais puro minério (em uma expressão, nossas melhores riquezas) já não mais ficariam no Brasil – por força da “globalização”, seriam mais e mais enviadas para o Exterior.

Mas a nova “aldeia global” é assim mesmo! Eremildo aprendeu, através de pessoas mais inteligentes e instruídas, que “a globalização é um processo econômico e social que estabelece uma integração entre os países e as pessoas do mundo todo”.

Maravilhado com tanta sapiência, Eremildo foi informado de que “o conceito de ‘aldeia global’ se encaixa neste contexto, pois está relacionado com a criação de uma rede de conexões que deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e econômicas de forma rápida e eficiente”. Que lindo!

Foi, assim, com muita alegria que Eremildo assistiu à entrada do Brasil na chamada “aldeia global” – finalmente ele poderia ter acesso aos mais modernos equipamentos do mundo, à mais avançada tecnologia produzida pela raça humana!

Através da Internet, talvez a face mais brilhante desta nova “aldeia global”, Eremildo tomou conhecimento dos últimos lançamentos. Pasmo, ele constatou que muitos produtos vendidos aqui como “novidade” já deixaram de ser fabricados no exterior há anos. E outros já saíram de linha na Europa, Japão e EUA sem sequer aqui terem chegado.

Eremildo descobriu desde fones de ouvido que podem ajudar surdos a ouvir até óculos com telas de computador embutidas, encontrou de torneiras que permitem lavar as mãos sem o uso de água até equipamentos que permitem a paralíticos um andar quase normal – e tudo isso já existia há anos. Constatou que computadores “de bolso”, que começam agora a chegar ao Brasil, já eram vendidos no Japão e EUA há mais de uma década.

Pensando em “tirar o atraso”, Eremildo saiu à cata de um “notebook” de última geração, uma filmadora moderna e outras engenhocas. Conseguiu encontrar tudo em lojas virtuais dos EUA, a “pátria do capitalismo e madrinha da globalização”. E eis que, peito inflado e cartão de crédito em “posição de sentido”, Eremildo foi recebendo uma mensagem atrás da outra informando que “em função de certas políticas comerciais, este produto não poderia ser exportado para o Brasil”! Tradução: estes produtos poderiam ser vendidos pela Internet para uma grande parte da “aldeia global”, mas não para a dele!

E é assim, desiludido com esta “globalização”, que Eremildo contempla a triste cena de brasileiros adquirindo em seu país aparelhos obsoletos, muitos deles já “fora de linha” como se “último lançamento” fossem! E pagando o dobro do que pagariam “lá fora”, vítimas infelizes de impostos extorsivos!

O consolo é que, enquanto aguardam que os produtos sejam embalados, os orgulhosos consumidores brasileiros ao menos podem saborear um legítimo e inigualável “cafezinho” nacional – “tipo exportação”, claro!