- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Estamos no caminho certo

A corrupção eleitoral é um horror. Prejudica a democracia. Diminui a legitimidade dos eleitos e a confiança nas instituições. É por isso que saudamos os cada vez mais numerosos movimentos da OAB, do Ministério Público e da Sociedade Civil organizada em prol de eleições absolutamente limpas.

Realmente, é dever de cada brasileiro esclarecido evitar que aqui se repitam fatos como os verificados recentemente na rica Alemanha, e noticiados pelo respeitado jornal “The Times”:

“Alemães colocam o voto à venda por 10 Euros cada. A disputa pela Chancelaria Alemã está tão apertada que alguns eleitores estão vendendo o voto pela Internet e através de anúncios de jornal”.

E prossegue a reportagem:

“Cashvote, uma companhia de Kiel, cidade do norte da Alemanha, criou um “banco de votos”. Os alemães ‘clicam’ no “site” e procuram compradores para seus votos, recebendo 10 Euros por cada um. Eles devem preencher um formulário, comprometendo-se a votar no partido ou político comprador. Clientes podem comprar pacotes de votos – 1.000 por 6.250 Euros ou 10.000 por 59.000 Euros. A empresa registrou 58.000 ‘clicks’ na última semana”.

Lia-se, ainda:

“Em Frankfurt a Polícia abordou o Departamento de Propaganda de um jornal, semana passada, após um homem ter publicado um anúncio dizendo “graduado oferece seu primeiro e segundo voto para (a próxima eleição) em troca de emprego”. Através do “site” de leilões e-Bay, eleitores estão oferecendo seus votos por valores maiores: “Votos para as eleições gerais disponíveis por 366 Euros”. Uma pesquisa de opinião pública conduzida pelo Emnid Research Institute constatou que 1/7 dos eleitores planejavam, em princípio, vender o voto por até 500 Euros”.

Finalmente, a reportagem adverte que “tentar comprar ou vender votos pode acarretar até 5 anos de prisão”.

Situação séria, esta. E que dizer da China, onde os eleitores estão descontentes com a falta de corrupção eleitoral? Há poucos dias, o jornal “Qiu Shi” publicou a seguinte notícia:

“Os moradores da cidade de Dingmei, na província de Fujian, estão revoltados por terem perdido as lucrativas propinas de candidatos durante as últimas eleições. Os candidatos haviam jurado em um templo que não comprariam votos”.

Efetivamente, isto não agradou os moradores: “você pode ganhar muito dinheiro sendo eleito administrador, então qual é o mal de distribuí-lo um pouco?”, reclamou um velho habitante, de nome Chen.

De acordo com o periódico chinês, os eleitores costumavam receber dos candidatos valores em torno de 1.000 yuans (cerca de 130 dólares).

“Os moradores não estão felizes com esta eleição sem corrupção”, uma senhora declarou. “Tudo que nós ganhamos nesta eleição foi um pote de arroz e uma garrafa de cerveja. Só isso”, protestou ela.

E quanto à qualificação dos candidatos? Alguns brasileiros, dentro daquela máxima de que “o Brasil é muito impopular dentro do Brasil”, apontam as antológicas candidaturas do macaco Tião, do bode Cheiroso e do rinoceronte Cacareco como um motivo de vergonha. Pode ser. Mas este tipo de “protesto”, que pertence ao nosso passado, ainda habita o presente dos Estados Unidos da América:

“Um cachorro da Flórida (EUA) vai brigar por uma vaga no Congresso dos Estados Unidos, graças à decisão de seu dono de incluí-lo na disputa das eleições primárias do Partido Republicano” (jornal “A Tribuna”, 03 de julho de 2002).

Assim, diante destes exemplos, temos que ter orgulho da democracia brasileira. Reconheçamos, claro, que ainda há muito por fazer. Temos que afastar das eleições os maus candidatos, aprimorar o processo de fiscalização e concluir a conscientização da população. Sim, ainda temos isto tudo por fazer.

Mas podemos, e não sem uma ponta de vaidade, dizer que estamos no caminho certo, na trilha da moralização e da valorização de instituições cada vez mais atuantes.