- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

O coração e a sorte

Dia desses li uma interessante notícia sobre a celeuma criada em torno de um tal voo 666, decolagem prevista para uma sexta-feira 13, com destino a Helsinque, na Finlândia – cujo código aeronáutico é “HEL”, que pode passar como corruptela de “hell”, inferno em inglês.

O medo de alguns passageiros me trouxe à memória o nome do japonês Tsutomu Yamaguchi. Estava ele andando pelas ruas de Hiroshima às 08:15 do dia 6 de agosto de 1945, quando caiu dos céus a famosa bomba atômica que inaugurou uma nova e sinistra era.

Atingido pela explosão, ocorrida a apenas três quilômetros de onde estava, Yamaguchi teve os tímpanos perfurados, ficou temporariamente cego e sofreu queimaduras sérias em parte do corpo.

Transferido para sua casa, em Nagasaki, Yamaguchi iniciou seu tratamento. Curiosamente, às 11 horas do dia 9 de agosto, enquanto ele descrevia para um amigo o horror de uma explosão nuclear, os norte-americanos jogaram outra bomba atômica, que igualmente explodiu a três quilômetros de onde ele estava.

Oficialmente reconhecido como a única pessoa que sobreviveu a duas explosões nucleares, Yamaguchi morreu em 2010, abençoado por ter chegado aos 93 anos de idade.

Há também o caso de Violet Jessop, uma inglesa que trabalhava como auxiliar no navio RMS Olympic – até este chocar-se com um navio de guerra, materializando uma “trombada” de proporções olímpicas!

Um ano depois, esta sobrevivente embarcou no famoso RMS Titanic, igualmente a trabalho. Em seguida ao famoso naufrágio, conseguiu ser acolhida no Bote 16 até ser salva na manhã seguinte pelo RMS Carpathia.

Passou-se o tempo, e ei-la a bordo de um Navio-Hospital – o qual veio a atingir uma mina, explodir e naufragar. Violet pulou para dentro de um bote – mas até este afundou, tragado pelas hélices do navio, deixando-a ao sabor das ondas até ser resgatada, uma vez mais.

Violet Jessop – com quem, sinceramente, jamais embarcaria em um navio – morreu em terra firme, após ter vivido longos 83 anos!

Encerro esta com a saga do inglês John Lyne. Nascido com sérios problemas nos pulmões, teve dificuldades em sobreviver. Aos 18 meses, atraído pela cor viva de um desinfetante doméstico, bebeu-o – indo parar no hospital por conta disso. Um ano depois, enquanto passeava de cavalo, sofreu uma queda – caiu exatamente em frente a um carro, tendo sido por este atropelado.

Aos 12 anos, voltando para casa de bicicleta, John foi atingido por um raio – mas sobreviveu. Dois anos depois, após quase afogar-se acidentalmente, caiu de uma árvore – em plena sexta-feira 13 – e quebrou um braço. Levado a um hospital, foi tratado e liberado para retornar à sua casa – para, no caminho, ser vítima de um acidente de trânsito e quebrar o mesmo braço em outro ponto.

Acredite, este personagem decidiu ir trabalhar como mineiro ao completar 20 anos de idade! Logo nos primeiros dias houve um desabamento que por poucos centímetros não o matou. Em seguida feriu-se por conta de algumas pedras que caíram ao seu redor.

Voltando para casa, envolveu-se em outro acidente de trânsito, ferindo o braço. A última notícia que li sobre este senhor dava conta de que ele caíra em um poço e estava afastado do trabalho há 32 semanas por conta dos ferimentos sofridos. Eis o que declarou a um jornal: eu tenho sorte de ter escapado. Na mesma entrevista agradeceu pelo dom precioso da vida, um bem a ser desfrutado.

É isso aí! Afinal, como dizia Cervantes, “o bom coração rompe a má sorte”.