- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

O passado está ficando imprevisível

Quando criança, me ensinaram lá na escola que o Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral, no dia 22 de abril de 1500. Me falaram ainda que a América havia sido descoberta por Cristóvão Colombo, aos 12 de outubro de 1492.

Eu sempre acreditei nisso, e vivia em paz com estas informações. Eis que, há algum tempo, chegou-me às mãos o livro “O Descobrimento do Brazil”, de autoria de Manuel Ferreira Garcia Redondo. Uma obra pequena, mas fascinante.

Nela, li que “em 1435 já o mapa-mundi de Bechario representa a Antilia e outras ilhas, a oeste dos Açores. Em 1436, um ano após, aparece o mapa-mundi de André Bianco e o seu portulano cujas cartas já representam o mar de Baga, o mar dos Sargaços, as Antilhas e o Brasil, figurando este como se fosse uma grande ilha. Em 1447, uma nau parte do Porto e descobre a Groenlândia, onde os marinheiros desembarcaram”.

Mais especificamente, anotou-se que “já em 1448, numa carta do portulano de André Bianco, tratando dos descobrimentos dos portugueses, se registra o Brasil de uma forma precisa”.

E a América? Sobre esta, noticiou-se uma expedição portuguesa da qual “fazia parte um alemão chamado Martim Behaim. Este alemão, de 1484 a 1486, obteve o conhecimento da costa americana, o qual registrou depois no globo que construiu ao regressar à Europa. Nesse globo foram representadas a península da Florida, o Golfo do México e as Antilhas, embora sem estas denominações”.

Para aumentar a confusão, mencionou-se que “o açoriano Fructuoso, tratando de João Vaz Côrte Real, diz que ele descobriu algumas partes do Poente e do Brazil, devendo, portanto, esta última descoberta ser anterior a 1500, pois João Vaz faleceu em 1496”.

Complicando de vez o que complicado já estava, citou-se um mapa datado de 1448, que representava o Brasil 1.500 milhas a oeste do arquipélado do Cabo Verde – e sabido é que o Cabo de São Roque fica a precisas 1.520 milhas de lá!

Complementando este mapa de 1448 havia um outro, de 1435, elaborado por Bechario, representando as Antilhas e outras ilhas a oeste dos Açores, acompanhadas da seguinte legenda: “ilhas recentemente descobertas”.

Eis que mal tinha acabado de me refazer deste livro e li em um jornal que, recentemente, um grupo de cientistas espanhóis e islandeses identificou genes de índios norte-americanos no DNA da população islandesa, herdados dos antigos vikings – que, portanto, estiveram no nosso continente muito antes dos eventos acima citados.

A propósito, narrativas dos séculos XIII e XIV retratam as aventuras de dois navegadores nórdicos, Eric e Leif, e bem assim suas chegadas à Groenlândia e à América. Fala-se até de um mercador islandês chamado Thorfinn Karlsefni, que por volta de 1010 casou-se com a cunhada viúva de Leif e foi habitar no Canadá com outros colonos.

Caso resolvido? Não. Uma pesquisa conduzida pelo professor Alan Macpherson, da Universidade Memorial da Terra Nova, no Canadá, concluiu que no ano 986 o navegador Bjarni Herjolfsson chegara com certeza ao continente americano.

Diante de tão desconcertantes informações, fiquei a pensar na extensão de nossa ignorância sobre a maioria dos fatos históricos. Lembrei-me de Napoleão Bonaparte, segundo quem “história é uma versão dos eventos passados com a qual as pessoas decidiram concordar”. E poucos minutos depois cheguei a uma confusa conclusão: até o passado está ficando imprevisível!