- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

O Planeta Água

Dia desses, em um momento de saudosismo, ouvia a música “Planeta Água”, imortalizada por Guilherme Arantes. Embalado pela canção e sua letra, ocorreu-me de saber a quantas andam, afinal, os decerto molhados habitantes deste planeta. Atirei-me, assim, a uma pequena pesquisa.

Os resultados me assustaram. Para início de conversa, 844 milhões de seres humanos não dispõem de água limpa – em pleno “Planeta Água”! 2,3 bilhões de pessoas não tem acesso a um simples banheiro – em pleno “Terceiro Milênio”. 31% das escolas deste planeta não são atendidas por uma rede de água – e dizer que estamos sob os ventos da “era da informação”!

Vamos aos resultados disso: a cada minuto um bebê morre em função de infecções causadas pela falta de água limpa – que matará um sobrevivente a cada dois minutos, até a idade de cinco anos. Se falarmos de educação, teremos 443 milhões de dias letivos perdidos apenas em função de doenças causadas por água imprópria para consumo.

Este é um quadro tão absurdo quanto “burro”, perdoando a expressão. Aprendi que para cada US$ 1 investido em saneamento básico haverá um crescimento de US$ 4 em produtividade – ou seja, um alto negócio. Em termos de saúde, basta dizer que se todos os habitantes do planeta dispusessem de água limpa as mortes por diarréia seriam reduzidas em um terço.

Decidi verificar a quantas anda a situação no Brasil. Li que um terço de nossas casas não conta com rede de esgoto. 81% dos municípios brasileiros despejam seu esgoto diretamente nos rios. Um em cada quatro brasileiros convive com esgoto a céu aberto.

Deparei-me, então, com um cálculo surpreendente, realizado pela Confederação Nacional da Indústria: mantendo-se o ritmo atual, o serviço de saneamento básico no Brasil, que inclui coleta de esgoto e rede de água, só chegará a todos os brasileiros após 2050.

Seria o nosso problema fruto da escassez de água? Com a palavra a Srª Zilda Lima, humilde moradora de Macapá, uma cidade banhada pelo rio Amazonas, salvo engano o maior do mundo em volume de água, descrevendo o drama histórico da “seca” na região: “Vivo no sertão”.

Está oculta, neste desabafo, uma séria acusação contra aqueles que regem nossos destinos – e que nos remete ao grito de Lothar Schmidt: “O que nos dá a Administração? A Administração nos dá o que pensar.”