Nosso país só teve vida política no sentido literal da palavra, após a Independência, em 1822. Antes disso só se pode falar como movimento político relevante, na existência de um “partido da independência”, em torno do qual iam se consolidando fortes correntes de opinião pública, incentivadas pelo mundo intelectual.
Como tendências, que poderiam ser classificadas “pré-partidárias”, havia, à semelhança da Europa e da Metrópole portuguesa, grupos que defendiam idéias constitucionais, republicanas, e os “corcundas”, isto é centro, esquerda e direita. Designavam “corcundas” ou “carcundas” ou reacionários direitistas, os que defendiam até mesmo o retorno do Brasil à situação de colônia.
A existência de partidos só pode ser assinalada, verdadeiramente, após a abdicação de D. Pedro I, em 1831, quando as diversas tendências se consolidaram em grupos próprios, partidários.
Os republicanos, revolucionários, insatisfeitos, exaltados e descontentes de toda espécie se reuniram no Partido Liberal; os partidários da manutenção da Constituição outorgada por D. Pedro I, no Partido Conservador, de linha mais moderada, embora progressista, também; e os reacionários, saudosistas do ex-Imperador, desejando a sua volta, no chamado “Partido Caramuru”.
O Partido Liberal teve participação decisiva na elaboração do Ato Adicional, e a partir de então houve vários gabinetes liberais, integrando, por conseguinte, o Governo e participando decisivamente da vida do Estado.
Em 1868 surge o Partido Liberal Radical, defendendo idéias liberais para a época e mantendo firmemente suas posições. Era anticlerical e a favor de ampla liberdade de comércio, condenando o intervencionismo estatal na economia.
Tínhamos, então, os monarquistas, restauradores e liberais, havendo liberais de direita de esquerda e de centro. José Bonifácio foi definido como um “liberal de centro”, situando-se entre o “radicalismo liberal” que colocava a origem da autoridade política no povo, e o constitucionalismo da Restauração, o qual defendia que o Poder emanava do Imperador, sendo a Constituição fruto exclusivo de sua vontade.
Até 1889, quando da proclamação da República, conservadores e liberais ora se alternavam no Poder ora compunham o gabinete em coalizão. Isto porque D. Pedro II declarava não pertencer a nenhum dos dois Partidos, “para que todos apóiem as instituições”, e, portanto, fortalecia ocasionalmente um ou outro. Esta equidistância do Imperador fazia com que oscilassem também as posições dos políticos. Por isso, se dizia que Bernardo Pereira de Vasconcelos, liberal em 1826, transformou-se, em 1837, no maior líder conservador do Império.
O período da chamada “Primeira República” ou “República Velha”, que começa após a proclamação e termina com a Revolução de 1930, teve como Partidos predominantes o Partido Republicano e a Aliança Liberal.
O Partido Republicano adquire nomes regionais “Partido Republicano Paulista”, “Partido Republicano Pernambucano”, “Partido Republicano Histórico do Rio Grande do sul” (fundado por Júlio de Castilhos), muda de nome para Partido Republicano Construtor, Partido Republicano Conservador e Partido Republicano Federal. Foi o Partido do Governo, sendo a Aliança Liberal o da oposição.
O Presidente da República, como comenta Afonso Arinos, tinha um poder “praticamente absoluto”, na América Latina, sendo “o presidencialismo latino-americano uma espécie de Monarquia absoluta a prazo fixo”.
Durante a primeira República, dado esse imenso poder concentrado nas mãos do Presidente da República, os poderosos interesses oligárquicos sediados nos grandes Estados não permitiam que a escolha saísse do eixo São Paulo – Minas Gerais. Ora o Presidente da República era paulista, ora mineiro. Daí a expressão cunhada, que predominava a política do “café com leite”, referindo-se a São Paulo, maior produtor de café, e Minas, de leite, na época.
Foi daí que explodiu a Revolução de 1930, dinamitando as estruturas políticas até então vigentes, e dando início a uma nova fase da vida nacional, com a ditadura de Vargas e, em seguida, a Segunda República.