- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Perplexidades

No ano passado a imprensa publicou interessante entrevista do Professor Joseph Nye, acerca da posição dos Estados Unidos neste princípio de século e de milênio, e o quadro “com que se deparará” o futuro Presidente sucessor do Sr. Bill Clinton – na realidade, com que se deparou o atual Presidente George Bush.

O Sr. Joseph Nye, segundo registram os jornais, é doutor em ciência política e reitor da Kennedy School of Government da Universidade de Harvard. Foi consultor do Departamento de Estado de 1977 a 1979 e Presidente do Conselho de Segurança Nacional. Acentua o repórter Marcio Senne de Moraes, que “é uma das maiores autoridades acadêmicas em relações internacionais, foi um dos fundadores de sua escola “neo-realista” e escreveu diversos livros, como “Bound to lead: the changing nature of American Power” e “After the cold war”.

Indagado sobre como compararia o poder norte-americano atual com o de outros impérios do passado, o Professor Nye respondeu que “o poder atual dos EUA difere do de impérios tradicionais do passado, pois não há controle formal. Os EUA exercem uma influência global nos dias de hoje, isso é indiscutível, entretanto a existência da soberania formal dos outros países faz uma grande diferença em relação aos impérios tradicionais do passado” (FSP, 5.11.2000).

Isso, em poucas palavras, quer dizer, mais ou menos, o seguinte: os povos sujeitos ao Império Americano têm governo próprio, administração própria, forças armadas, Universidades, etc. Mantêm, portanto, toda sua soberania, mas essa soberania é apenas formal, porque a soberania real acha-se concentrada nas mãos dos EUA. As coordenadas das ações governamentais são traçadas pelo poder superior, como se houvesse uma relação entre “matriz” e “filiais”.

Isto tudo nos vem à memória quando analisamos o que se passa no nosso País. Constantemente lemos comentários e mais comentários sobre o perigo do desembarque de tropas americanas na Amazônia – o que tem sido rechaçado veementemente pelas mais representativas autoridades daquele País.

Realmente, não vemos qualquer necessidade de tal medida de força. Se não, vejamos:

  1. Foi o próprio Governo brasileiro que entregou grande parte da Amazônia à jurisdição de reduzido número de índios. Essa imensa área do território nacional acha-se ocupada, hoje, por organizações estrangeiras (ONGs) e “missionários” americanos, encarregados de “proteger a cultura indígena”.

Não se sabe de nenhum Decreto norte-americano, nem tampouco de Lei aprovada pelo Congresso americano, regulando o assunto. O que há são inúmeros Decretos de Presidentes do nosso País, e Leis aprovadas pelo Parlamento brasileiro.

  1. Ainda recentemente, o Exército brasileiro, visando a resguardar a integridade do nosso território diante de perigos externos, inclusive invasões por parte de traficantes e contrabandistas, quis instalar um posto na fronteira com a Venezuela. Imediatamente as aludidas sociedades auto-designadas “protetoras dos índios” entraram com uma medida judicial, mediante a qual um Juiz Federal, brasileiro, concedeu liminar impedindo a construção desse Posto de Fronteira.

A matéria encontra-se atualmente “sub judice” e, naturalmente, será submetida aos Tribunais Superiores. Fica, entretanto, provado e comprovado cabalmente, que até mesmo nossas Forças Armadas acham-se impedidas de transitarem e ocuparem território supostamente brasileiro.

  1. O controle aéreo de toda a região amazônica, através de sofisticado e poderosíssimo sistema de radares, foi entregue a uma empresa americana pelo próprio Governo brasileiro. Ato de soberania. Está, portanto, em mãos norte-americanas, o monitoramento de toda a Amazônia, o que equivale a um controle absoluto, via satélite, de tudo que se passa por lá.
  1. Constantemente vemos tropas brasileiras e agentes policiais brasileiros metralhando e matando, sem dó nem piedade, brasileiros que resolvem se aventurar por aquelas lonjuras para tentarem o garimpo ou ocuparem o solo. A título de “preservação ambiental” são afugentados ou sumariamente eliminados.

Aliás, não custa lembrar Henry Kissinger quando dizia que: “O dinheiro que os Estados Unidos gastaram nos anos 60 na América Latina, gastaram-no muito mais na subversão e na interferência política do que para assistência econômica”.

Até parece que o Prof. Nye está certo, ou pelo menos não deixar de ter suas razões.