- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Poucos noticiam

Yemen, 2017. O flagelo da guerra abate-se sobre esta região miserável do planeta. Vamos a alguns números, levantados após cerca de um ano de conflito: 130 crianças mortas por dia, ou uma a cada 18 minutos, e 400.000 em necessidade de tratamento urgente por conta de doenças causadas pelas vicissitudes da guerra – fome, falta de medicamentos etc. Estima-se que 30% delas morrerão. Curiosamente, um quadro tão dramático recebeu da esmagadora maioria da imprensa ocidental um tratamento meramente burocrático.

Congo, década de 1990. Inicia-se um violento conflito em torno da exploração de coltan, um minério raro sem o qual não teríamos a maioria dos aparelhos eletrônicos modernos. Nos últimos 20 anos, esta guerra já ceifou seis milhões de vidas – o mais sangrento conflito desde a Segunda Guerra Mundial. Uma investigação identificou 157 empresas ocidentais envolvidas com a exploração deste mineral – e calculou-se o custo de um telefone celular produzido com coltan extraído daquele país: a vida de duas crianças. É interessante: no mundo ocidental praticamente não se noticia este tão grave conflito!

Fallujah, 2015. Pela pena do jornalista Larry Everest, alguns poucos jornais noticiaram que “os EUA usaram bombas de fragmentação, fósforo branco e urânio empobrecido contra o povo iraquiano, todas elas consideradas armas de destruição em massa, suspeitas de induzirem câncer e deformações em fetos. Presencia-se uma taxa de deformações congênitas na cidade de Fallujah que supera até as verificadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em seguida aos bombardeios nucleares”.

Colômbia, 2014. Um chocante relatório da Anistia Internacional, que praticamente não encontrou repercussão, expôs que a guerra civil que assola aquele país desde 1956 já produziu nada menos que 7 milhões de mortes – a maioria delas após o ano 2000. Somente para que se tenha uma ideia, em 2002 aquele conflito ceifou a vida de 744.799 seres humanos.

É intrigante: nenhuma das informações acima recebeu ampla divulgação! Conflitos de muito menor relevância, ou mesmo divórcios escandalosos de algumas celebridades, encontraram repercussão muito maior.

É quando a humanidade deveria lançar-se ao seu talvez mais importante e premente desafio: resolver a crise do acesso à informação em plena… era da informação!