- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Solon

O Município da Serra perdeu recentemente um dos seus mais ilustres filhos: Solon Borges Marques, o que, pela sua brilhante atividade, por sua pugnacidade, pelo seu valor, competência e honestidade, pode ser caracterizado como uma perda inestimável para o nosso Estado, e para o Brasil.

 

Solon era, antes de tudo, um homem extremamente piedoso, caridoso e devotado às causas de Deus. Pregador do Evangelho, durante várias décadas fazia sua Oração do Angelus, diariamente, através do Rádio, às seis horas da tarde.

 

Tanto falou e tanto pregou que acabou perdendo a voz. Ficou afônico.

 

Adquiriu tanta popularidade e tornou-se tão querido e admirado pelo povo que se elegeu Prefeito de Vitória e de Vila Velha, dois dos mais importantes Municípios da Grande Vitória.

 

Era, sem dúvida alguma, um dos maiores líderes populares do nosso Estado, razão por que, sem pedir nem exigir, acabou lançado candidato a Senador, pelo MDB, partido que naquela época fazia oposição ao Governo Federal, entregue às mãos dos Militares.

 

Solon recebeu verdadeira consagração pública. Há uma célebre definição de um escritor norte-americano que dizia que “a política consiste em tirar dinheiro do rico e voto dos pobres”. Pois Solon, muito embora descendente de tradicional família serrana, deu um desmentido a essa assertiva. Era um homem pobre, paupérrimo. Não tirou dinheiro dos ricos, porque suas teses eram eminentemente avançadas, e tinha, até mesmo, tintas de socialismo. Obteve, no entanto, votação esmagadora. Os pobres, em massa, votaram nele, que consideravam seu ídolo.

 

Acontece que naquela época, através do instituto da sub-legenda, ele foi lançado pelo MDB e tinha que conseguir mais votos do que a soma de todos os votos dos três candidatos da ARENA. Era, sem dúvida alguma, um jogo de cartas marcadas. Mas, assim mesmo, a votação de Solon, que foi muito superior à dos três candiatos, individualmente, quase ultrapassou a soma dos três. Perdeu por um número insignificante de votos. E sua derrota só foi declarada, mais tarde, por via judicial, dadas as confusões e suspeições surgidas no processo apuratório.

 

Numa época em que tanto se fala de corrupção e enriquecimento às custas do Tesouro público, não se pode deixar de relembrar o exemplo maravilhoso deixado por Solon para as gerações porvindouras. Homem público honesto na verdadeira acepção da palavra.

 

Homem culto, orador primoroso, que encantava e empolgava as multidões, surpreendeu a todos quando se revelou, além disso, administrador notável. Dirigiu as Prefeituras de Vitória e Vila Velha, naquela época sem muitos recursos e abarrotadas de problemas, com mão segura e firmeza de comando. Fazia obras para o centro, mas olhava predominantemente para os bairros mais pobres, construindo escadarias, abrindo ruas e levando água e luz aos mais humildes.

 

Em toda a rica biografia de Solon, há, no entanto, um aspecto que merece ser ressaltado: era um homem de Fé. E, como diz a Bíblia, “a fé remove montanhas”. Há inúmeros casos de milagres atribuídos a ele. Possuía uma qualidade excepcional de influenciar pessoas, graças à sua Fé extraordinária. Invocava a Deus, ao Espírito Santo, a Nossa Senhora da Penha e a São Benedito da Serra, em todos os instantes de sua vida.

 

Solon não pregava Religião, apenas. O que é mais importante, ainda, praticava Religião.

 

Sua viúva, Dra. Dalva, e seus filhos, realmente não ficaram com herança nenhuma dele – disso não tenho a menor dúvida. Mas conservam, em suas personalidades, muito dos exemplos e das idéias de Solon. Sobretudo sua fé. Deixou com herança – isto sim – imensa riqueza moral e intelectual.

 

Aliás, as idéias e os exemplos de Solon já fazem parte do patrimônio cultural e moral de nossa terra.

 

Conforme dizia Santo Agostinho, “tema a alma sua própria morte e não a do corpo”, pois, “para os bons, a morte é um porto de descanso; para os maus, é um naufrágio”. “Morrer, para quem morre em Jesus, é saltar do navio que aporta às praias eternas; é dormir entre os homens e acordar entre os anjos”.

 

Morreu um Justo. Foi-se o último grande lider popular do nosso Estado.