- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Toshiyuki morto

Kawaji Toshiyuki, 52 anos de idade, está morto. Seu corpo foi encontrado pela polícia de Osaka, no Japão, aos 26 de outubro de 2015. Segundo consta, a causa da morte foi um tiro disparado contra seu peito. Após algumas investigações, descobriu-se que Kawaji era líder de uma organização criminosa.

Qualquer brasileiro, habituado à rotina do absurdo das páginas policiais sempre recheadas, após tomar conhecimento desta notícia, seguramente indagaria o motivo de sua excepcionalidade. Sim, o que haveria de extraordinário no homicídio de um chefe de quadrilha?

Segue a resposta, registrada pela séria revista britânica “The Economist”: em todo o ano de 2015 houve, no Japão inteiro, um único homicídio produzido por arma de fogo! Kawaji Toshiyuki foi, ao longo de todo um ano, o único ser humano abatido a tiro no Japão. Em um humilhante contraste, no Brasil há uma média de 120 homicídios cometidos com armas de fogo por dia – sim, por dia!

O Japão é um país paupérrimo, desprovido de recursos minerais os mais básicos. Sequer de espaço para grandes investimentos em agricultura ou pecuária dispõe. Para piorar, seu solo é sujeito a constantes terremotos e salpicado por vulcões.

O Brasil é um país riquíssimo. Chega a ser difícil imaginar uma riqueza que não tenhamos em abundância. Do petróleo ao ouro, do ferro ao nióbio, a natureza nos foi pródiga. Temos espaço a fartar para plantar e criar. Nosso solo foi poupado de terremotos e vulcões.

Lá, um povo rico vive civilizadamente. Aqui, um povo pobre apenas sobrevive. Diante deste humilhante contraste, apontamos o dedo para o Zé-Povinho ou para os políticos. Acabamos nos esquecendo, porém, de que quando apontamos um dedo para alguém, direcionamos três outros a nós mesmos.

Sim, somos nós os maiores culpados. Preferimos não ver a realidade dos entornos de nossas cidades, nas quais o Estado há muito não entra. Somos pessoas de bem, mas não do bem; dizemos não ao mal, porém não aos maus – veja nossos maiores corruptos sendo festejados nos mais requintados ambientes e reflita sobre o quanto somos omissos enquanto elite dirigente.

Mesquinhos, sequer de continuidade administrativa conseguimos falar. Medíocres, vivemos há séculos do extrativismo. E, covardes, ainda cobramos de um povo abandonado o preço de nossa cegueira assassina.