- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Um convite

Dia desses, lendo o respeitado jornal “The Guardian”, do Reino Unido, deparei-me com uma séria reportagem – daquelas que induzem profundas reflexões e, eventualmente, novos projetos. A matéria, em resumo, buscava expor quantas mortes acontecem por culpa da omissão da administração pública em controlar os níveis de poluição – sim, por culpa da administração pública.

O texto começa assim: “O Governo do Reino Unido está colocando em risco a saúde de milhões de cidadãos por não enfrentar a crise de poluição que se abate sobre o país, de acordo com o enviado especial para direitos humanos e ambiente da ONU”, David Boyd.

Segue um alerta sombrio: “Esta crise é responsável por cerca de 50.000 mortes a cada ano, e está devastando a vida de milhões em lugarejos e cidades pelo país afora”. Não menos aterradora é a observação de que estes números, oficiais, são apenas “a ponta do iceberg”.

Confira-se: “Se você tem dezenas de milhares de mortes prematuras, você está falando também de milhões de doenças, de asma a câncer do pulmão, que não necessariamente matam, mas que causam muito sofrimento”.

A consideração seguinte foi especialmente dolorosa: “As crianças são as mais sensíveis ao ar tóxico. No mês passado o jornal “The Guardian” demonstrou que as crianças do Reino Unido estão absorvendo uma quantidade desproporcional de poluição atmosférica durante um dia de aula. Em uma escola do ensino primário foram encontrados, dentro das salas de aula, níveis de emissões particularmente perigosas muitas vezes superior aos limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde”.

Encerra a matéria uma ponderação tão óbvia quanto chocante: “Não há argumento econômico contra o ar limpo – na verdade, eis aí uma das raras circunstâncias nas quais nossos objetivos ambientais, econômicos e sociais estão perfeitamente alinhados”.

Fiquei a recordar de um discurso proferido por seu saudoso pai nos idos de 1980, denunciando o pó preto que nos flagela. De um estudo sobre o quanto padecem nossas crianças por conta dele.  Da constatação de que Vitória tem mais enxofre no ar que São Paulo – em números absolutos.

Pois é. Quantas vidas são ceifadas aqui? Quantas doenças causadas? Qual o prejuízo humano e econômico? De quem a responsabilidade, civil e criminal? Eis aí um excelente tema de estudo!