- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Uma lei nota 10

Dia desses li, em um jornal europeu, uma fascinante notícia sobre certa lei francesa. Com o espírito vivamente impressionado pela boa idéia que vi descrita, exponho-a a seguir, em tradução livre.

A matéria começa descrevendo o que já é uma rotina em Paris: “Todas as manhãs, em um supermercado de nome Auchan, situado no centro da cidade, Magdalena dos Santos tem um encontro com Ahmed Djerbrani, motorista de um banco de alimentos. Ela é a pessoa encarregada de supervisionar as doações de alimentos do estabelecimento, selecionando aqueles que estejam com a data de validade vencendo – iogurtes, pizzas, frutas, vegetais e queijos”.

Seria este um gesto isolado, fruto de generosidade ocasional? Não: “entregar esta comida para instituições de caridade não é apenas um ato de boa-vontade. Trata-se de cumprir uma lei de 2016, que proíbe o comércio de lançar ao lixo alimentos em condições de consumo. Cada infração a esta lei corresponde a uma multa de US$ 4,5 mil”.

Prossegue o texto: “Ainda na loja, Djerbrani posiciona um termômetro sobre os iogurtes. “Eu meço a temperatura dos laticínios, para ter certeza de que eles foram devidamente refrigerados”, diz. Ele então coloca todos os produtos em seu veículo e atravessa a cidade até uma igreja, que irá distribuí-los a famílias pobres”.

Vejamos, agora, as dimensões que esta lei alcançou: “Em toda a França, 5.000 instituições de caridade dependem de bancos de alimentos, que agora conseguem quase metade de suas doações junto a supermercados. Esta nova lei aumentou a quantidade e a qualidade das doações”.

Outro aspecto: segundo o presidente da rede de bancos de alimentos, “esta lei também ajudou a reduzir o desperdício ao anular certas restrições contratuais que afetavam as empresas do ramo”. Por exemplo: “Havia um fabricante que não tinha autorização contratual para doar os sanduíches que preparava para dada rede de supermercados. Agora, recebemos 30.000 sanduíches deles – sanduíches que seriam jogados no lixo”, declarou.

Pois é. Pare e pense: nos últimos anos nosso povo “importou” muita coisa. Assimilamos de estrangeiros muitas expressões, costumes e valores – nem todos bons, diga-se de passagem. Assim, diante da cena rotineira de semelhantes nossos buscando comida em latas de lixo, que tal copiarmos aqui esta prática?