- Pedro Valls Feu Rosa - http://pedrovallsfeurosa.com.br -

Zahir e o mundo

Dia desses li que Abdul Zahir foi vítima de um engano: confundido com dado membro da Al-Qaeda, acabou preso sob suspeita de terrorismo e prontamente transferido para a sinistra prisão de Guantánamo, em Cuba.

O problema maior é que este erro apenas seria reconhecido 14 anos depois! Abdul, hoje com 44 anos de idade, passou um terço de sua vida em uma prisão distante de seu país, totalmente isolado do mundo.

Parece incrível, mas em pleno século XXI não foi permitido a Abdul sequer ver seu filho mais novo, que ainda era gestado quando de sua prisão – hoje, ele já conta cerca de 14 anos de idade.

A soltura de Abdul não foi fácil – demandou nada menos que uma década de esforços por parte de seu advogado, que pedia simplesmente uma acusação formal ou sua soltura. Segundo declarou, “os Estados Unidos, de alguma forma, confundiram sal, açúcar e geleia com materiais utilizados para fabricar bombas”.

Por falar em bombas, li que bombardeiros franceses atacaram um vilarejo na Síria, ceifando cerca de 120 vidas. Dentre as vítimas, segundo consta, estariam crianças, idosos e mulheres.

No âmbito deste nebuloso cenário surgiu denúncia outra: a de que 320 toneladas de munição de urânio empobrecido foram utilizadas pelas forças armadas dos EUA naquela região. Segundo consta, por conta dos altos índices de radioatividade verificados, o índice de crianças nascidas com deformidades diversas superaria aqueles verificados em Hiroshima e Nagasaki logo em seguida ao bombardeio nuclear.

Ali perto, no Congo, 157 empresas ocidentais estariam fomentando uma guerra – que já deixou 5 milhões de mortos – em torno da exploração de minerais. Calculou-se que um celular produzido com minério de lá carrega o sangue de duas crianças.

Em desespero, os habitantes da região começam a fugir rumo à Europa. Pelo caminho, nos últimos 13 anos, nada menos que 23.000 deles morreram. No que toca aos que conseguem chegar, denunciou-se que 10.000 crianças simplesmente desapareceram em plena Europa – a maioria terá como destino a escravidão ou a doação de órgãos.

Pois é. Aprendi, na minha profissão, que devemos sempre escutar os dois lados antes de firmar um juízo. Será que temos, perplexos diante de um mundo a cada dia mais violento, ao menos tido acesso à realidade do norte da África e do Oriente Médio?