A fé dos homens

Dia desses a Anistia Internacional emitiu um alerta sobre o massacre sofrido pelos albinos no Malawi – os coitados são rotineiramente sequestrados e esquartejados, sendo então vendidos aos pedaços para religiosos, que os utilizam em rituais. Acredita-se que poções preparadas com pedaços de corpos de albinos tragam saúde e boa sorte.

Na Arábia Saudita, quinze adolescentes morreram vítimas de um incêndio ocorrido na escola onde estudavam – os agentes religiosos trancaram as portas e não deixaram que elas saíssem porque, na correria, esqueceram suas túnicas e véus.

Em Gana, religiosos justificaram um terremoto que assolou o país com a existência de relacionamentos homossexuais. Afirmaram, literalmente, que quando os homens se relacionam “a terra treme”. Já no Haiti uma epidemia de cólera foi atribuída por líderes religiosos à ação de feiticeiros – que, em seguida, foram linchados quase que às centenas.

Em Israel, um tribunal ultra-ortodoxo de Jerusalém decidiu proibir a comercialização de aparelhos portáteis capazes de reproduzir música e filmes, por considerá-los um modo de conduzir as pessoas ao pecado. Ainda naquele país, um outro grupo lançou uma campanha para proibir totalmente o uso de computadores, que seriam “o mal disfarçado”.

Na Índia, Yanadi Kondaiah era considerado um homem puro. Por conta disso teve sua perna arrancada a serrote por religiosos, que a usaram em um ritual. No mesmo país, duas crianças foram sacrificadas na fogueira, sob as vistas de toda a população de um vilarejo, em agradecimento por uma vitória – esportiva – de dado atleta local.

Na Indonésia, uma jovem de 19 anos e seu namorado de 21 foram açoitados publicamente simplesmente porque passeavam pelas ruas de Aceh – ato considerado indecente. Na mesma ocasião foram também punidos, da mesma forma, seis jovens cujo único ‘pecado’ foi ingerir bebidas alcoólicas em uma festa.

Finalmente, no Irã, dois poetas foram presos e condenados a 99 chicotadas cada um por terem cumprimentado mulheres, apertando suas mãos, quando do lançamento de um livro – de poesias – que escreveram.

Diante de todos estas tragédias, rigorosamente atuais, jamais tão próprias as palavras de Pascal: “nunca o ser humano pratica o mal tão completamente e com tanto prazer como quando o faz por convicção religiosa”.

Enviar por e-mail Imprimir