A mediocridade

Dia desses li uma interessante reflexão, atribuída a Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica: “todos nós nascemos originais e morremos cópias”. São palavras que, na era do “politicamente correto”, merecem alguns momentos de meditação.

Observe que, de uns tempos para cá, todos parecem ter a mesma opinião sobre os principais temas relativos à humanidade – e utilizei a expressão “parecem” porque aos que eventualmente discordam de algo reserva-se o limbo ou a discriminação pura e simples.

Fico a recordar, diante deste quadro, das palavras – hoje tão negligenciadas – de Voltaire: “não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-las”.

Veja, com olhos de ver, os principais meios de comunicação da humanidade. Observe que todos parecem refletir um só caminho, defender uma só “verdade”. É difícil neles encontrar uma entrevista ou manifestação outra de opinião divergente quanto a estas tais “verdades” – as exceções são quase sempre retratadas de forma a minar-lhes a credibilidade. E contemple Voltaire a inquietar-se na tumba.

Pense em alguma reunião social. Experimente emitir alguma opinião diferente daquelas que, rotuladas como “politicamente corretas”, já estejam entranhadas no espírito de seus interlocutores – para constatar-se relegado ao desprezo, enquanto alvo de olhares de reprovação. E pense em Voltaire revirando-se no túmulo.

Tão mais chocante este quadro quando em contraste com a “Era da Informação”, da qual tanto nos orgulhamos enquanto humanidade. A despeito de fascinados pela oportunidade da troca de ideias com pessoas de cada canto e recanto deste planeta, quão poucos de nós ousam questionar aqueles “conceitos estabelecidos”.

Seria o nosso conformismo fruto do medo da solidão? Afinal, integrar uma massa – ser um “animal de rebanho”, nas palavras de Nietzsche – é uma tendência que brota do receio do isolamento social.

O perigo deste agir é que, excluindo-nos da história, a ela alçamos, aqui e ali, déspotas e falsos profetas – que o diga a patente e inequívoca decadência espiritual e moral da humanidade.

Contemplando tão triste realidade, encerro estas linhas com a profunda indagação de Spinoza: é possível fazer da multidão uma coletividade de homens livres, em vez de um ajuntamento de escravos?

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