A nobreza de ser gentil

Dia desses, em algum lugar deste planeta, um decerto cansado motorista, com pressa de chegar em casa, esqueceu de fechar o vidro do passageiro ao estacionar seu carro. No dia seguinte, após uma noite chuvosa, encontrou o vidro fechado e um bilhete: “Não queria que seu carro se molhasse. Tenha um bom dia”.

Em algum outro lugar um cidadão foi buscar seu carro, estacionado em uma movimentada rua, e encontrou no vidro dianteiro um recado: “Observei que seu bilhete de estacionamento estava quase vencendo e vi a fiscal descendo a rua. Comprei para você duas horas extras”.

Há também o caso de um motorista de caminhão que encontrou colado na porta deste um envelope com a seguinte mensagem: “Você não me conhece, mas eu percebi que seu veículo precisa de pneus novos. Sempre quis fazer uma bondade para uma pessoa estranha, porque um dia alguém fez o mesmo por mim. Em anexo está o recibo da loja de pneus da esquina. Basta ir lá e eles trocarão os pneus do seu caminhão gratuitamente. Tudo o que peço é que algum dia você faça algo bom para um completo estranho”.

Em outra parte do mundo uma lavanderia exibia na porta um cartaz com os seguintes dizeres: “Se você está desempregado e precisa de roupas limpas para uma entrevista de emprego nós resolveremos isso gratuitamente”.

Não nos esqueçamos do ciclista que foi apanhar sua bicicleta, estacionada na rua, após um violento temporal. Encontrou o banco devidamente protegido por um plástico, sob o qual lia-se “Um assento molhado não teria sido legal”.

Não faz muito tempo um jovem casal, com um bebê a reboque, foi a um restaurante. Enquanto faziam as contas para ver o que seria possível pedir receberam um billhete com a seguinte mensagem: “Certa vez, quando estávamos começando a vida, alguém nos pagou um jantar. Isto nos marcou profundamente. Sejam bons pais e trabalhem duro – a vida passa depressa”. Seguiu-se, então, um maravilhoso jantar absolutamente grátis.

Há o caso do casal de turistas que tomou o metrô errado em um país distante. Já na saída da estação, perguntaram a um policial como fazer para chegar ao destino, que supunham próximo. Eis que o agente da lei, pacientemente, explicou-lhes que deveriam pegar outra linha. Em seguida, para espanto de ambos, foram por ele acompanhados até a porta do metrô correto. Na estação de chegada um outro policial os aguardava, com um mapa às mãos, para orientá-los. O casal insistiu em pagar os dois bilhetes, mas ouviu o seguinte: “vocês estão perdidos e devem ser ajudados – o valor dos bilhetes não importa, mas sim o princípio”.

Tenho arquivado o registro de cada um destes casos. Omiti, intencionalmente, onde se passaram. Pode ter sido aqui, ali, lá ou acolá – não importa, aconteceram entre nós.

Eu teria exemplos mais vistosos em meu “database”, como uma estatística segundo a qual quase metade dos atendimentos médicos do mundo todo vem do trabalho de voluntários. Ou de que a esmagadora maioria dos casos de recuperação de drogados é igualmente fruto da dedicação de pessoas que se doam sem esperar nada em troca.

Sim, eu teria belos números a mostrar. Mas hoje ficarei apenas com aqueles pequenos gestos de grandeza e gentileza das pessoas comuns, praticados sob o único impulso de saber que um desconhecido teve um momento de alegria ou algum sofrimento atenuado.

Que neste ano que se inicia cada um de nós tenha sempre presente que o menor ato de gentileza vale mais que a maior de todas as intenções!

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