A pauta da humanidade

Chega ao fim mais uma jornada. É hora de ligar a televisão e acompanhar as notícias do dia, antes de ir para cama. No mais das vezes são notícias graves, que refletem um planeta conflituoso. 

Com toda a certeza, você ouvirá falar de conflitos como o da Líbia. Ou de terremotos como o do Haiti. Poderá ter acontecido, também, um tsunami lá na Ásia. Ou, quem sabe, irá ao ar mais uma matéria sobre o conflito que flagela a população do Iraque. 

Cada uma das notícias acima sai das telas de televisão e imediatamente vai parar nas mesas de bar, nos cafés de esquina ou nas conversas de escritório. Já são assunto rotineiro no seio de larga parcela da humanidade. 

Curiosamente, no entanto, poucos divulgam, e quando o fazem normalmente não dão o devido destaque, que a cada quatro segundos morre uma criança pelo planeta afora, vítima de fome. De falta do que comer! 

Faça as contas: uma criança morrendo a cada quatro segundos significa que a cada dia alcança-se o número de pessoas que perderam a vida em todo o conflito acontecido na Líbia nos idos de 2011. 

Terremoto do Haiti? A cada dez dias reproduzimos um pelas favelas deste planeta – algumas, inclusive, próximas de sua residência. E quase ninguém aborda este assunto! 

Não nos esqueçamos do tsunami que varreu a Ásia em 2004 – a cada onze dias repetimos, somente com o número de mortes de crianças, a perda de vidas lá verificada. 

E as tão noticiadas mortes verificadas na Guerra do Iraque? Some-as todas, ao longo de vários anos de conflito, e assuste-se ao constatar que em apenas 46 dias morre o mesmo número de crianças. 

Perdoando pela forma crua – porém necessária – de abordar este assunto, sugiro uma experiência: conte até quatro, e pronto. Morreu outra! Ao final do dia, terão perdido a vida uns 21 mil pequenos semelhantes nossos. 

Enquanto isso, de vez em quando acidenta-se algum avião pelo planeta. Em poucos minutos estaremos vendo, pela tela da televisão ou pelas páginas dos jornais, todos os detalhes possíveis – da cor da aeronave aos passageiros que, por sorte, nele não embarcaram. Quantos seres humanos podem morrer em um acidente de avião? 300? É curioso: a cada 75 segundos morre o mesmo número de crianças vítimas de fome, da falta do que comer em pleno século XXI, e a maioria de nós prefere não tratar deste assunto! 

Há alguns dias fiz uma experiência: tentei achar algum filme sobre este tema para adquirir. Não consegui. Encontrei dezenas sobre os conflitos da Líbia e do Iraque, a maior parte deles glorificando a violência, e outros tantos sobre desastres. Mas quase nenhum sobre as pobres crianças que silenciosamente perdem suas vidas pelas favelas e grotões deste planeta! 

A humanidade, em tempos recentes, tem dado mostras de grande sensibilidade em torno de diversos outros problemas. Do combate ao câncer à violência doméstica, passando pela proteção da natureza, vemos, não sem esperança, a aurora de dias melhores. Se ainda não resolvemos estes problemas, temos a comemorar avanços notáveis. 

Fico, pois, a pensar se não seria o caso de empreendermos idêntica iniciativa em prol das crianças. Que possam crescer com saúde, libertas da falta de acesso a um simples banheiro, que afeta seis milhões de brasileiros. Que sejam educadas em escolas que não fecham por conta de ordens de traficantes. Que estas escolas tenham esgoto, algo ausente para vinte milhões de alunos. E água filtrada para matar a sede de 5,2 milhões de estudantes, que por não a terem acabam caindo doentes. 

Acredito – tenho que acreditar – que, enquanto brasileiros, temos condições de lutar por isto. Já vi nosso povo superar barreiras maiores. Qualquer pequena vitória neste campo salvará vidas – e o futuro do Brasil! 

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