Brasil colonial

Não faz muito tempo, em plena Praça dos Três Poderes, uma carga de cavalaria da Polícia Militar foi contida por índios entricheirados armados de arco e flecha – um policial chegou a ser conduzido para um hospital por ter sido vítima de uma flechada.

A notícia correu o mundo. “Arcos e flechas contra gás lacrimogêneo”, destacou o jornal espanhol “El País”. A mesma manchete foi utilizada pelo britânico “Daily Mail”. Na Argentina, o “El Clarín” noticiou que “Com arcos e flechas, índios entram em confronto com a polícia no Brasil”.

No distante Qatar, a rede “Al-Jazeera” também relatou surpresa com “indígenas vestidos com trajes típicos contra policiais a cavalo na capital do país”. Nos EUA, o respeitado “New York Times” divulgou um vídeo com as imagens dos índios enfrentando a cavalaria.

Eis que, há alguns dias, uma senhora foi atingida por uma flecha a bordo de um ônibus que trafegava pela capital do Pará – talvez o primeiro caso de “flecha perdida” do milênio, uma exceção à triste rotina das “balas perdidas” que vitimam tantos brasileiros.

Tratando de tema análogo, li recente notícia no sentido de que “depois que dezenas de índios estiveram no plenário Ulysses Guimarães, onde foram homenageados, a Câmara organizou um mutirão para higienizar o local. No total, 14 funcionários de limpeza chegaram ao plenário e passaram álcool nos assentos que seriam usados pelos parlamentares”.

Referida notícia me remete a uma outra, publicada nos idos de 2014: “desde 2008, 419 crianças indígenas de até nove anos morreram no Brasil por desnutrição. O número representa 55% de todas as mortes por desnutrição infantil registradas no país no período, embora os índios sejam apenas 0,4% da população”.

Enquanto tudo isto acontece, li a seguinte matéria em um jornal britânico: “Mais de 500 anos após a colonização que massacrou os povos indígenas, os índios brasileiros continuam sendo mortos, mas a partir de hoje eles tem uma nova arma. Comunidades tribais receberam telefones equipados com câmeras de vídeo, à prova d’água e alimentados por energia solar”, doados por uma instituição inglesa. Em caso de ameaça de violência as imagens serão enviadas diretamente para a Europa.

Pois é. Até quando este tão rico Brasil, porém colonial e injusto, continuará a ser humilhado pelo mundo afora?

Enviar por e-mail Imprimir