Chips: uma conquista do povo brasileiro

Faça uma experiência: descubra uma simples calculadora de bolso que tenha na caixa a expressão “Fabricada no Brasil”. Conseguiu? Ótimo! Agora experimente abri-la, e veja que o coração dela é uma peça preta, pequena e parecida com um besouro. Trata-se do “chip”.

Esta peça é uma parte essencial do mundo moderno – desde um sofisticado avião de caça até um simples relógio digital, nada funciona sem ele. Segundo consta, os “chips” foram inventados há uns 40 anos. Atualmente, são fabricados em países tão distintos como Estados Unidos e Taiwan, Coréia do Sul e Índia, ou Finlândia e Cingapura, dentre outros.

Enquanto isso, nosso tão rico país ia ficando vergonhosamente para trás! E a expressão “vergonhosamente” procede – não é possível que, em pleno século XXI, um país como o Brasil seja um mero “montador” de aparelhos eletrônicos. Esta era uma triste verdade: nosso país não tinha condições de fabricar sequer uma calculadora de bolso 100% nacional!

Além dos evidentes danos estratégicos que este atraso trazia, havia também o custo das importações. Só para se ter uma idéia, em 2006 gastamos US$ 3,4 bilhões só com a importação deste tipo de componente. Por conta disso, nossos aparelhos eletrônicos são mais caros e perdem competitividade no mercado internacional.

Enquanto isso, só para ficarmos com dois pequenos exemplos, a Suíça fatura US$ 12,7 bilhões ao ano exportando “chips”, e a Finlândia outros US$ 10 bilhões. É muito dinheiro. Mais que o dobro do orçamento do Ministério dos Transportes do Brasil para 2008, com Programa de Aceleração do Crescimento incluído. Aliás, uma única fabricante de “chips”, a norte-americana Intel, lucrou em 2008 mais de 13 vezes o orçamento do nosso Ministério das Minas e Energia.

É por essas e outras que nos surpreendeu a pouca euforia que causou a inauguração, há poucos meses, da nossa primeira fábrica de “chips”, lá em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Registro ser esta a primeira empresa do gênero da América Latina toda. Eis aí uma conquista que – esta sim – deveria ser objeto de viva comemoração por todos aqueles que sonham com um Brasil moderno.

O mais importante: trata-se de um empreendimento público, fruto do investimento dos nossos impostos. Uma verdadeira conquista do povo brasileiro, à qual deu-se o nome de CEITEC, ou “Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada”. Os componentes lá fabricados deverão ter nível tecnológico compatível com o padrão de 85% do mercado nacional – um excelente início.

Eis aí uma conquista a ser objeto dos nossos maiores cuidados, dada sua importância econômica e estratégica. E também por ser um escoadouro daquele que é o maior patrimônio do povo brasileiro: sua reconhecida criatividade e capacidade de inovar. Sim, nosso país tem capital humano para ser um dos grandes polos de tecnologia do planeta – só falta algum incentivo para que deixemos de ser exportadores de excepcionais cientistas e programadores.

Nas últimas décadas nosso país desnacionalizou a maior parte do seu parque industrial e empresarial. Nossas maiores riquezas minerais vão sendo carregadas dia e noite para o exterior, em ritmo alucinante e a preço de banana. Tomara que pelo menos na tecnologia possamos desmentir Afrânio Peixoto, segundo quem “os dias inteiros, destruímos o Brasil. Deus, às noites, o refaz”.

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