Dallas, Brasil

Dia desses o mundo acompanhou, com justificado horror, a tragédia que se desenrolou na cidade de Dallas – um suspeito negro foi morto durante uma abordagem policial, e em seguida cinco policiais brancos foram mortos como vingança.

A imprensa nacional dedicou, justificadamente, largo espaço à cobertura deste triste episódio – foram páginas e mais páginas, enriquecidas com análises, artigos, comentários e estatísticas.

Aproveitei para colher alguns dados. Descobri que, a cada ano, policiais norte-americanos matam cerca de 428 pessoas (1,1 por dia) – e, segundo o FBI, 50 deles tombam no cumprimento do dever (0,13 por dia).

No Reino Unido, entre 1990 e 2016, a polícia tirou a vida de 60 pessoas (0,006 por dia). Ainda naquele país, entre 1945 e 2016, 250 policiais foram mortos em ação (0,009 por dia).

Na Alemanha, policiais matam cerca de 10 pessoas a cada ano (0,02 por dia). Li, ainda, que entre 1945 e 2011 392 agentes da lei foram vítimas de homicídio (0,016 por dia).

Na França, a cada ano, 13 policiais são assassinados (0,03 por dia) – contra 5 suspeitos mortos pela polícia no mesmo período (0,01 por dia).

Enquanto isso, aqui no Brasil, a cada mês cerca de 105 pessoas são mortas em confronto com a polícia (3,5 por dia), e 26 policiais são assassinados (0,8 por dia).

Estes são números que chocam. Que nos degradam enquanto povo. Que nos humilham perante o mundo, por transformarem uma tragédia como a de Dallas em um evento corriqueiro, banal mesmo.

Qual a solução? Temos optado, e já se vão algumas décadas, pelo isolamento – nossas “áreas nobres” a cada dia mais isoladas das “áreas problemáticas”, seja através de muros ou barreiras policiais, e nossas casas a cada dia mais isoladas do mundo exterior.

A pergunta que modestamente faço é: esta política está resolvendo? Claramente, não. Temos, pois, e com urgência, buscar caminho outro. Mas qual?

Humildemente, ouso sugerir uma via absolutamente simples e lógica: a presença do Estado em todos os lugares – que não haja, neste país, bairros nos quais uma autoridade não possa trafegar sem antes negociar com bandidos.

Dado este passo, difícil mas necessário, as escolas e a economia dos cinturões de miséria estabelecidos no entorno de nossas cidades ganharão notável impulso. E a civilidade voltará a reinar. Simples assim.

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