Devin Moore e seu filho

Dia desses, folheando o Caderno de Informática de A Tribuna, vi um brilhante alerta sobre o conteúdo violento de alguns videogames vendidos pelas nossas ruas. A reportagem começava com um aviso sério: “Especialistas garantem que games de lutas e brincadeiras violentas deixam jovens mais agressivos”.

Cito um trecho da matéria: “A psicanalista Eliane Vasconcelos é contra competições e combates, como os games de lutas. Segundo ela, quem brinca dominando o outro desenvolve o lado sádico. Já a vítima fica com dificuldades de relacionamento, timidez, inibição e bloqueios de raciocínio. Eliane também reprova videogame com armas. “Do virtual para o real é um pulo”, frisa”.

Que o diga Devin Moore! Trata-se de um americano comum que viciou-se em um violento videogame no qual o objetivo é roubar carros e matar policiais. E eis que um belo dia, sem o menor motivo, ele saiu pela rua decidido a roubar um carro. Acabou preso. Ao chegar na Delegacia, Devin pegou a arma de um policial. Apesar de nunca ter disparado um tiro de verdade na vida, a prática que a arma do videogame lhe havia dado garantiu três disparos certeiros, que causaram a morte de três policiais. Este jovem de apenas 22 anos, ao ser condenado à morte, declarou algo chocante: “a vida é como um videogame: uma hora você morre”.

Inspirado pelo mesmo jogo um jovem tailandês de apenas 18 anos matou um motorista de táxi a facadas para roubar-lhe o carro. Levado a julgamento, declarou que “só queria descobrir se roubar um carro na vida real era tão fácil como no videogame”. Acabou condenado à morte.

Diante destes chocantes casos decidi olhar mais de perto o tema. Encontrei um estudo realizado pela Escola de Medicina da Universidade de Nova York, comprovando que crianças da pré-escola que jogam videogames violentos estão mais propensas a apresentar um comportamento agressivo.

Descobri uma outra pesquisa, realizada sobre 600 crianças. Comprovou-se que as mais agressivas eram aquelas que mais tempo jogavam videogames com temas violentos. Em um outro teste, crianças foram submetidos a exames psicológicos antes e depois de ficarem apenas dez minutos jogando um desses videogames. Os resultados chocaram, demonstrando níveis de agressividade brutalmente alterados.

Na Alemanha este tema já chegou ao Congresso Nacional. Parlamentares alemães chegaram a abrir uma investigação sobre videogames violentos por conta de suspeitas de que eles influenciaram um jovem de 18 anos a atacar sua antiga escola com armas e explosivos. Um dos congressistas, Wolfgang Bosbach, declarou que “nós não precisamos de jogos de matança que podem levar a uma barbárie”.

Reagindo a esta realidade, autoridades japonesas proibiram a venda destes jogos a menores de 18 anos. Na Europa, jogos cujo objetivo seja a matança indiscriminada de seres humanos foram proibidos na Irlanda, Reino Unido e Itália. Há poucos dias, no Japão, proibiu-se a venda de um jogo cujo objetivo era, pasme, estuprar mulheres.

Enquanto isso, e volto à reportagem que abriu este texto, “basta dar uma volta entre os camelôs da Grande Vitória para encontrá-los por preços que variam entre R$ 5,00 e R$ 10,00”.

Fico a pensar, diante desta realidade, se não estamos ignorando imprudentemente o sábio conselho de Joubert, segundo quem “as crianças tem mais necessidade de modelos do que de críticas”.

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