Fukushima: por quem os sinos dobram?

Todos nós temos acompanhado o desenrolar da chamada “crise nuclear de Fukushima”, decorrente do recente terremoto que atingiu o Japão – afinal, em uma expressão, teme-se que muitas pessoas possam vir a “morrer de energia nuclear”.

Por conta deste temor agitou-se larga parcela da humanidade – da Alemanha aos Estados Unidos, da França ao Brasil, crescem em número e intensidade os protestos contra este método de produção de energia. Eis aí um debate importante: afinal, realmente morre muita gente pelo mundo afora por conta dos processos de geração de energia.

Começo pelo carvão. Como “morre gente de carvão” neste planeta! Para que se tenha uma ideia, a cada Terawatt/hora de energia produzido pelo uso do carvão, morrem 161 pessoas. Seja por conta da poluição, seja no momento da extração, eis aí uma perigosa fonte de geração de energia. Curiosamente, no entanto, não me recordo de nenhuma manifestação ampla e veemente contra o uso do carvão – que atualmente responde por 50% da geração de eletricidade no mundo.

Morre-se muito também de petróleo. A cada TWh de energia produzido, 36 seres humanos perecem. Apesar disso, seguimos firmes no uso desta fonte de energia, que responde por 36% do que geramos. Interessante, mas também não me lembro de grandes campanhas contra o uso do petróleo – muito pelo contrário, assistimos passivamente massacres os mais cruéis serem feitos por conta dele.

Há também as mortes por conta do gás natural, que responde por 21% da energia consumida pela humanidade. A cada TWh produzido, quatro semelhantes nossos perdem a vida. Interessante: também aqui não me lembro de passeatas ou campanhas de protesto, do tipo “abaixo o gás”.

E que dizer das mortes por conta da energia solar? Acredite: a cada TWh gerado por aqueles painéis solares instalados nos telhados das casas corresponde uma mortalidade de 0,44. Tradução: muitos trabalhadores morrem por conta desta aparentemente inofensiva forma de geração de energia. Novamente, nunca soube de algum protesto contra o seu uso.

A humanidade também perde muitos filhos por conta da energia hidrelétrica. Exemplifico com os 230 mil mortos na China, em 1975, por conta de falhas nos reservatórios. Só para fins de comparação, o sempre lembrado acidente de Chernobyl fez 9 mil vítimas. Estatisticamente, para cada TWh gerado em usinas hidrelétricas, o índice de mortalidade chega a 1,4. É digno de nota que, igualmente, não tenho notícia de grandes campanhas contra o uso deste método de geração de energia – e muito pelo contrário!

Não nos esqueçamos do vento. Sim, o uso da chamada “energia eólica” também mata. Neste caso, a mortalidade é de 0,15 a cada TWh gerado. Não há aqui, também, registro de grandes protestos contra o uso deste sistema – em sentido oposto, sempre estimulado.

Resumindo: por conta do uso de todos estes métodos, convivemos pacificamente com uma mortalidade entre 0,15 e 161 por TWh gerado. Lá estão morrendo, longe das nossas vistas, trabalhadores e pessoas quase sempre pobres, a fim de que não fiquemos sem energia.

Enquanto isso, o índice de mortalidade por conta do uso da energia nuclear é de apenas 0,04 por TWh. Quanto a esta, no entanto, agita-se ferozmente a consciência mundial. Eis aí algo intrigante! Seria porque usinas nucleares podem matar gente como a gente?

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