Governo de lobo

Dia desses li que, lá na Rússia, o deputado Ilya Gaffner propês que a população comesse menos durante a crise econômica. Observou, em seguida, que “os banquetes natalícios já passaram e as pessoas encheram os estômagos”. Transcrevo, finalmente, um trecho de sua entrevista: “os preços dos alimentos subiram cerca de 25% em relação a janeiro do ano passado. Não vejo aí uma grande tragédia” – afinal, “está provado cientificamente que o corpo humano funciona melhor quando está com fome e frio”.

Por falar em pobreza, milhares de habitantes de Bangladesh, absolutamente famintos e sem esperança, tem buscado fugir do país pelo mar – muitos morrem durante a travessia. Eis que, referindo-se a tão pungente drama humano, a Primeira-Ministra daquele país, Sheikh Hasina, definiu-os como “doentes mentais”, acusando-os de “prejudicar a imagem do país”.

Às voltas com problema idêntico, inclusive no que toca ao número de mortes em decorrência de naufrágios durante a travessia pelo Mar Mediterrâneo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Peter Szijjarto, rotulou o ato de acolher os refugiados como uma “estupidez”: “estupidez é deixar centenas de milhares de pessoas, ou mesmo milhões, entrar na Europa sem controle, quando toda a gente, europeus e migrantes, vê que eles não vão conseguir encontrar aqui o que esperavam”.

A “solução” para este problema, encontrou-a a política alemã Frauke Petry, conforme noticiado pelo sério jornal “The Times”: “os guardas de fronteira deveriam, se necessário, atirar nos migrantes que tentam entrar ilegalmente”  na Alemanha.

Nas Filipinas, o prefeito de Capas, Antonio Rodriguez, notabilizou-se por distribuir aos eleitores, com recursos públicos, urnas funerárias com seu nome pintado.

Da Argentina vem a impressionante declaração do Deputado Javier Cisneros, após ter sido derrotado na busca pela reeleição: “terei que voltar a trabalhar”.

Na Índia, o parlamentar Tapas Pal assim pronunciou-se, em um célebre discurso, sobre seus adversários políticos: “Eu não os pouparei. Eu liberarei meus homens para estuprarem suas mulheres”.

Na China, um partido político fez imprimir 7,6 mil rolos de papel higiênico com imagens de candidatos adversários – para cada folha, uma fotografia de algum deles.

Diante destes exemplos, e de tantos outros, fico a pensar em Victor Hugo: “uma sociedade de carneiros acaba por gerar um governo de lobos”.

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