Loucura e poder

Dia desses, meio que ao acaso, lembrei-me de Nikolai Grozev. Trata-se do Prefeito Municipal de Nova Zagora, na Bulgária – uma cidade que tem enfrentado sérios problemas de trânsito, sendo palco de muitos acidentes e mortes deles decorrentes.

Preocupado com tal situação, este alcaide decidiu enfrentá-la: adquiriu quatro quilos de açúcar, que espalhou pessoalmente pelas vias da cidade – segundo reza uma antiga tradição local, este gesto espantaria os espíritos ruins que seriam a causa de tantos infortúnios.

Não muito longe dali, no Turcomenistão, o presidente Gurbanguly Berdimuhamedov proibiu a importação de veículos negros, vermelhos ou azuis – recomendando, ainda, que apenas os de cor branca sejam conduzidos no país. Segundo antigas crenças, a cor branca atrairia sorte. Li, ainda, que o governo gastou uma verdadeira fortuna trocando toda a frota oficial por veículos brancos e revestindo de mármore – branco, claro – os principais edifícios da capital do país, Ashgabat.

Nas Filipinas, país que padece sob o tráfico de entorpecentes, o presidente Rodrigo Duterte anunciou a concessão de medalhas e prêmios aos cidadãos que matarem traficantes. Textualmente, prometeu o seguinte: “Eu pagarei, por um traficante, cinco milhões de Pesos se ele estiver morto. Caso esteja vivo, somente 4,999 milhões”. No que toca ao governo, prometeu que em seis meses este matará 100.000 criminosos diversos. Finalmente, ele corrigiu uma reportagem que lhe atribuía 700 homicídios – “não, não foram 700, mas 1.700”, esclareceu.

Nos EUA, o prefeito de Fairbanks, no Alasca, gastou US$ 7 mil em despesas judiciais para cobrar uma dívida de US$ 37,50. Do outro lado do Oceano Atlântico, no Reino Unido, a cidade de Surrey está gastando milhares de libras, também em despesas judiciais, para cobrar uma multa de £ 60 de uma mãe que, durante alguns dias, em seguida ao Natal, deixou de levar seu filho à escola por conta de uma viagem.

Não pense serem estes exemplos o retrato de civilizações exóticas. Muito pelo contrário. Olhe pela sua janela e perceba, antes, que muito do que vivemos – e sofremos – somente pode ser explicado pela loucura e insensibilidade de alguns poucos. E recorde-se, então, das palavras de Shakespeare, a exclamar ser “uma infelicidade da época que os doidos guiem os cegos”.

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