Notícias velhas

Dia desses descobri uma curiosa atitude de um jornal norte-americano chamado “The Onion”: a cada chacina ocorrida nos EUA ele publica um mesmo texto, noticiando o fato e abordando suas causas e as lições a serem extraídas – são alteradas apenas a data e o local. O incrível é que a notícia permanece atual!

Fiquei a meditar sobre isso. Passam-se os anos e os problemas se repetem, apesar de perfeitamente identificados e diagnosticados. As soluções, no mais das vezes absolutamente simples e lógicas, simplesmente não são aplicadas.

Vamos a outro exemplo: localizei uma notícia, publicada nos idos de 1987, indicando a perda de 20% da produção agrícola por falta de locais de estocagem. Eis aí um problema claramente identificado e de solução óbvia. Pois bem: esta mesma notícia, se publicada nos tempos atuais, estaria correta, não fosse por um detalhe: já não são mais 20%, e sim 44%. Sim, o problema aumentou! Será que nosso país não descobriu ainda que sairia mais barato construir armazéns e silos?

O que dizer de um texto, publicado por Mem de Sá, no qual era recomendada a simplificação dos procedimentos judiciais do Brasil “a fim de que se desentulhassem os escaninhos das Relações”? Vejam só: o Brasil deixou de ser colônia de Portugal, séculos se passaram, e este texto continua rigorosamente atual. Não conseguimos, ainda, nos libertar dos formalismos inúteis – o máximo que alcançamos foi digitalizá-los ao máximo, aumentando nossa humilhação.

Recordei-me de um discurso proferido por meu saudoso pai em maio de 1980, lá no Congresso Nacional. Disse ele, reproduzindo denúncias da imprensa, que “durante o ano passado, pressionada pelos índices de poluição do ar e da água causados por sua atividade, a Vale do Rio Doce divulgou promessas de instalação de inúmeros equipamentos. No entanto, passado o prazo determinado pela própria empresa, os médicos da região não constataram ainda a diminuição da ocorrência de casos de faringite causada pela inalação de partículas sólidas ou de gases tóxicos”. Eis aí mais um problema claro e de solução evidente – e que só piorou de lá para cá!

Cheguei a uma conclusão: nosso maior sofrimento não vem dos problemas velhos, mas da velha mentalidade daqueles poucos que, ao longo dos séculos, tinham como dever solucioná-los. Simples assim.

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