O Brasil é um país sério?

“Campeões do desrespeito” – este o conceito dos motoristas brasileiros! Dia desses li que em oito horas eles cometeram 2.669 infrações no trânsito em apenas dois cruzamentos de Vitória.

O culpado de plantão, para variar, chama-se “impunidade”. Eis aí um problema grave. É por isso que o nosso trânsito não seria civilizado. Mas dizem que algum dia as coisas aqui serão rigorosas, como no 1º Mundo – quando isto acontecer seremos um “país sério” e desmentiremos a famosa frase atribuída ao presidente francês Charles de Gaulle (“o Brasil não é um país sério”).

Enquanto este sonhado dia não chegar carregaremos nas costas o complexo de sermos habitantes de um país esculhambado, no qual campeiam a impunidade e a bagunça! Aqui, “lei é como vacina – umas pegam, outras não” (frase de Otto Lara Resende).

Em resumo, e como disse Nelson Rodrigues, chegamos a um quadro em que “o Brasil é muito impopular dentro do Brasil”. E é assim, com vergonha das nossas instituições e inveja da seriedade do orgulhoso “1º Mundo”, que vamos perdendo o que de mais importante um povo tem: sua auto-estima.

Tudo isto me passou pela cabeça quando li, há algum tempo, a seguinte notícia: “Os motoristas franceses estão dirigindo mais descuidadamente que o normal porque contam com o tradicional perdão das multas dado pelo novo presidente eleito, declarou o Ministro dos Transportes. As estatísticas mostram um aumento de 13,9% nas mortes” (jornal Le Parisien).

E se o presidente recusar este tradicional perdão das multas? Com a palavra o jornal The Times: “Motoristas franceses estão há muito tempo evitando multas de trânsito e outras penalidades através de um telefonema para o Gabinete do Prefeito ou a Polícia local. Um terço das 14 milhões de multas de trânsito emitidas anualmente não são pagas pelos infratores. As multas são canceladas por funcionários amistosos”.

Como exemplo, a reportagem cita o caso de um político francês: “Andre Santini, membro do Parlamento e Prefeito de Issy-les-Moulineaux, interveio 200 vezes em um ano para cancelar multas. “Você tem que saber como suavizar as coisas para seus eleitores”, declarou ele”.

Diante das pressões por que “multa seja coisa séria”, Oficiais da Polícia reclamaram que mudanças neste sistema os privaria de um instrumento útil. Transcrevo as palavras de um Policial, publicadas na mesma notícia: “Cancelar uma multa de trânsito é, com freqüência, a única maneira de agradecermos a alguém que nos tenha dado uma gorjeta”.

E na Austrália? Nos casos de embriaguez ao volante, “magistrados parecem favorecer as mulheres infratoras (37,8% mantiveram suas licenças, contra 22,9% dos homens). Eles também deixaram 44,1% dos motoristas com mais de 50 anos manterem as chaves de seus veículos, contra somente 18,3% dos jovens com menos de 25 anos” (jornal Sydney Morning Herald).

Na Bélgica, vejamos a atuação do Ministério Público: “Promotores de Bruxelas, perplexos com o número de multas de trânsito aplicadas desde que os radares fixos foram instalados, disseram à Polícia para cancelar todas, menos as dos piores ofensores” (Agência Reuters).

E a Inglaterra? Noticiou-se que um a cada dez motoristas ainda usa seus celulares ao volante, apesar da proibição. E se forem multados? A resposta está no jornal inglês The Guardian: “41% das multas jamais são pagas”.

Não busco, aqui, vilipendiar outros países – mesmo porque cá temos, também, problemas dos mais sérios a serem enfrentados. Não pretendo, nestas linhas, deixar a mensagem de que podemos ficar aliviados pois “eles são iguais a nós”. Absolutamente.

Apenas perceba-se que nós, humanidade, temos ainda muito que progredir rumo à verdadeira civilização, definida por Jane Adams (prêmio Nobel da Paz de 1931) como “um método de viver, uma atitude de respeito igual por todos os homens” – e isto sim, é sério!

 

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