O Casaquistão e o Brasil

Você já ouviu falar do Casaquistão? Trata-se de um país da Ásia Central, encravado entre a Rússia, a China, o Quirguistão, o Uzbequistão e o Turcomenistão. Este distante país, cuja capital chama-se Astana, é lar de cerca de 17 milhões de pessoas.

Pois bem: de uns tempos para cá, o Casaquistão descobriu os milagres que um moderno sistema de ferrovias pode fazer pela economia. Tudo começou com uma análise profundamente simples: qualquer coisa produzida na China pode levar uns 60 dias navegando pelos mares afora até chegar no mercado ocidental – uma eternidade, pois.

A partir desta constatação, chegaram à conclusão de que uma moderna ferrovia reduziria este prazo para apenas 14 dias – saindo de Chongqing, na China, até Duisburg, na Alemanha, um percurso de nada menos que 10.800 km. Estão relançando, assim, a clássica “rota da seda”, com um sensível impacto no comércio mundial.

Para tanto, o governo daquele país está investindo, ao longo de cinco anos, nada menos que US$ 44 bilhões – não somente em ferrovias, mas igualmente em “portos secos”, capazes de processar o imenso fluxo de mercadorias que se prenuncia.

Somente em 2012, graças a tal iniciativa, o número de contêineres de 40 pés transportados pelo país aumentou 60%, chegando a 6.600 – e alcançando 10.000 no final de 2014. Vamos aos frutos: malgrado os números ainda serem modestos, dado estar o projeto ainda em implantação, prevê-se que em 2020 somente a Yerkhat Iskaliyev, estatal responsável pela logística de transportes, auferirá lucros na casa dos US$ 3,5 bilhões.

Dá para perceber, sem muito esforço, que o investimento feito ao longo de cinco anos estará quase que completamente pago em no máximo dez. Consideremos, em seguida, todos os benefícios adicionais de uma ferrovia – basta abrir qualquer livro de história que descreva o processo de desenvolvimento do oeste norte-americano e surgirá límpido o potencial econômico desta modalidade de transporte.

Enquanto isso, na algo distante década de 1940, o Brasil contava com uns 38.000 km de ferrovias – hoje, são apenas 30.214 km. Ao encolhimento das ferrovias correspondeu uma ampliação das rodovias, que de 185.000 km em 1940 passaram a ter 1.600.000 km. Foi assim que chegamos ao incrível país que transporta 62% de suas cargas em caríssimos caminhões que percorrem igualmente caríssimas rodovias.

Pare e pense: um caminhão leva até 30 toneladas de carga, contra três mil de um trem típico. Construir ferrovias custa caro – porém, falamos de um transporte 20% mais barato que o rodoviário, principalmente em distâncias superiores a 600 km, comuns em um país de dimensões continentais como é o nosso.

O mais inacreditável é que uns 40% de nossas ferrovias estão em estado deficiente, causando a vergonha de nossos já poucos trens circularem a uma velocidade média de 20 km/h – contra, por exemplo, de 80 km/h nos EUA.

Não nos esqueçamos, finalmente, que temos uma vasta rede fluvial e quase 8.000 km de litoral – e por onde anda nossa navegação? Vamos a mais números: com um litro de combustível e uma tonelada de carga, um caminhão consegue percorrer em média 25 km; um trem, 86 km; e um barco, 219 km.

Recordemos, agora, uma frase: o que uma criança não conseguir entender, ninguém mais entenderá, pois a verdade é algo simples – eis aí um ensinamento que remonta à Antiguidade. Quero crer, pois, que criança alguma entenderia esta estranha opção rodoviária feita pelo Brasil.

Precisamos, assim, explicar a elas o que houve! Teria sido obra de algum governo paralelo? Algo a ver com interesses inconfessáveis? Eu não sei. Só sei que quando conseguirmos explicar isto às crianças finalmente compreenderemos este tão rico, mas pobre, Brasil.

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