O destino do turista brasileiro

“Reforcem a segurança, pois existem brasileiros circulando no Shopping”. Segundo li em A Tribuna, esta pavorosa frase foi trombeteada no sistema de alto-falantes do Shopping Bell’s, em Las Vegas, nos Estados Unidos da América, e ouvida por um casal de brasileiros que passeava por lá.

Para que pudessem ir aos EUA ouvir tal agressão, estes brasileiros precisaram antes obter um visto. Tiveram que se deslocar até a sede de um consulado, aguardar em uma fila e enfrentar uma entrevista por vezes nada cordial. Não faz muito tempo divulgou-se que a demora para marcar esta tal entrevista lá no Rio de Janeiro é de 109 dias. Li que em Beijing os chineses esperam apenas 15 dias, e em Buenos Aires os argentinos aguardam apenas dois.

Uma vez conseguido o visto, aguarda os brasileiros uma recepção nada cordial nos aeroportos norte-americanos. A propósito, recordo-me de lamentável incidente noticiado pela imprensa no não tão distante ano de 2002: “alguns Ministros de Relações Exteriores estão sendo obrigados a tirar os sapatos nos aeroportos americanos por medida de segurança. Entre eles estão o chanceler brasileiro Celso Lafer e a chanceler chilena María Alvear. Não precisam ficar descalços, por exemplo, os ministros Jack Straw (Inglaterra) e William Graham (Canadá)”.

É possível, ainda, que estes brasileiros sequer consigam sair do aeroporto. Em 2005 o número de brasileiros presos nas fronteiras norte-americanas alcançou 8,6 mil. Há poucos anos circulou o depoimento de um destes brasileiros, um engenheiro eletrônico baiano de 42 anos de idade, 20 de formado e com todos os documentos em ordem: “sou jogado numa sala imunda, fedorenta, sem ventilação e já apinhada de gente. Gente cansada, faminta, doente, gente vomitando. Percebo a incessante romaria de pessoas que chegam. Enojado, testemunho os oficiais americanos disputarem o privilégio de revistar as mulheres e adolescentes mais bonitas, sem a menor preocupação de esconder a sua luxúria dos seus respectivos pais, maridos ou irmãos. Chutes, empurrões, gritos, ameaças, brutamontes fortemente armados despejam incessantemente sua prepotência, preconceito e arrogância no constante fluxo de turistas despejados na nossa pequena cela, cada vez mais cheia e com mau cheiro insuportável”.

Pode-se dizer que este terá sido um episódio isolado. Talvez seja. Mas fico a pensar no que aconteceria se isto estivesse ocorrendo em algum luxuoso aeroporto brasileiro – daqueles confundidos com banheiro por dois turistas alemães, que recentemente decidiram trocar de roupa lá no saguão mesmo, ficando de cueca no meio dos passageiros.

No Reino Unido, até onde pude apurar, de cada 100 brasileiros que desembarcam no aeroporto de Londres, três são deportados. Apenas no ano de 2006 foram inacreditáveis 4.985 brasileiros enxotados.

Na Espanha chegou-se ao espantoso número de dez brasileiros barrados por dia. A propósito, li em A Tribuna a seguinte notícia: “O Consulado do Brasil em Frankfurt relatou ao Itamaraty a inusitada união de agentes aeroportuários espanhóis e alemães no controle da entrada de brasileiros no aeroporto alemão”. Seguiu-se o chocante dado de que em revistaram mais de 60% das malas dos brasileiros.

Aliás, sobre a detenção de estrangeiros nos aeroportos espanhóis, creio que merece ser reproduzido trecho de reportagem publicada por um jornal de lá, o El Mundo: “Entre o grupo de detidos se encontravam cinco crianças, uma das quais de apenas dois anos, que não contou durante os dias [de detenção] com produtos de higiene e nutrição necessários. As mães não tiveram talco, nem roupa limpa, nem nada, porque levaram tudo”.

Enquanto isso, em apenas quatro meses de 2005, 1,4 milhão de brasileiros gastaram US$ 1,2 bilhão no exterior. Naquele ano, nossos investimentos em outros países chegaram a US$ 94,7 bilhões, ou o equivalente a 15,7% do PIB da época. Em nosso país acolhemos, de braços abertos, milhares de empresas européias e norte-americanas – que jamais discriminaram nossos recursos ou os frutos do nosso suor.

Pois é. Talvez, enquanto o destino do turista brasileiro for a ingratidão, a discriminação e a humilhação, devessem ser buscados outros destinos – inclusive para o nosso país.

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