O futuro da humanidade

Há poucos dias participei da caminhada promovida pela Pastoral da Criança em defesa daqueles que chamamos “o futuro da humanidade”. Confesso ter sido um momento de ampla e profunda reflexão.

Atualmente, segundo dados coletados pela FAO, nosso planeta produz alimentos em quantidade suficiente para sustentar todos os seus habitantes. No entanto, 963 milhões de semelhantes nossos estão desnutridos. Dentro deste quadro, segundo a ONU, a cada cinco segundos morre uma criança vítima da fome. Uma a cada cinco segundos!

Algum desavisado poderia dizer que este é um problema exclusivo dos lugares mais atrasados do planeta. Grande engano: li um relatório divulgado pela Community Foundations of Canada dando conta de que naquele rico país uma a cada cinco crianças vive na pobreza.

Ao sul da fronteira, nos Estados Unidos da América, recente pesquisa constatou que 15 milhões de crianças, ou uma a cada quatro, vivem abaixo da linha de pobreza. Denunciou-se que 22% dos norte-americanos abaixo de 18 anos, e 25% dos abaixo de 12 anos, passam fome.

Do outro lado do oceano Atlântico, na rica Inglaterra, recente estudo encontrou 5,5 milhões de crianças vivendo na pobreza. Uma a cada dez crianças daquele país é extremamente pobre e vive à margem da sociedade.

Se cruzarmos o Canal Britânico e chegarmos à França não encontraremos uma situação muito diferente. Lá, cerca de 8% dos menores de 18 anos são pobres e padecem sob o flagelo de doenças, falta de abrigo e educação. Na rica Alemanha o problema é ainda mais grave. Estimou-se, em 2007, que naquele país uma a cada sete crianças até 15 anos de idade vive na pobreza.

Enquanto isso, no ano de 2007, os gastos militares globais alcançaram a espantosa cifra de US$ 1,34 trilhão, ou cerca de US$ 200 para cada pessoa do planeta. Naquele ano, só os Estados Unidos da América gastaram com armas incríveis US$ 547 bilhões.

Para melhor compreendermos o que significam estes números, calculemos que nossos governos gastam a cada dia US$ 3,6 bilhões somente com armas. Enquanto isso, segundo a ONU, 19% da humanidade sobrevive aos trancos e barrancos com menos de US$ 1 por dia. Estes são números tão simples como chocante é a verdade que revelam.

Mas prossigamos: no Brasil, 22% dos mais de 25 mil catadores de lixo têm menos de 14 anos. Segundo o IBGE, 48,6% das crianças entre 5 e 14 anos que trabalham no Brasil simplesmente não ganham nenhuma remuneração. A propósito merece ser relembrada uma pesquisa divulgada pela Organização Internacional do Trabalho, segundo a qual o Brasil tem 5,5 milhões de crianças trabalhando, a metade delas sem receber. A jornada de trabalho destes escravos, digo, crianças, não é pequena – no mínimo 40 horas semanais. Claro, há também aquelas crianças, digo, escravos, que recebem remuneração – precisos 41,5% deles, que ganham no máximo meio salário mínimo.

Enquanto isso, nos últimos cinco anos, o Brasil destinou R$ 851 bilhões só para pagar os juros da dívida pública – é como se cada brasileiro tivesse desembolsado uns R$ 4,57 mil, as crianças incluídas. Apenas em 2007 os juros pagos pela Administração Pública chegaram a R$ 160 bilhões, ou 7,66% do PIB, ou mais de 15 vezes o que se gastou com o programa Bolsa-Família.

Cheguei a uma conclusão: a caminhada daquelas crianças pelas ruas de nossa cidade não era uma procissão. Não era uma passeata. Era, talvez, um cortejo fúnebre. Quem sabe, uma “via crucis”.

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