O navio vermelho e os engarrafamentos

Era um navio vermelho. Inconfundível. Chegou a Vila Velha na manhã do dia 9 de janeiro – vi quando ele surgiu do meio da neblina, lá pelas 8 da manhã. Fundeou bem em frente à Praia da Costa, esperando a vez de ir para o porto.

Na manhã do dia 10 ele continuava lá, aguardando. Na do dia 11 também. E na do dia 12. E 13. E 14. Só saiu de lá na noite do dia 14 de janeiro, após longos 6 dias parado.

Segundo apurei, cada navio parado custa entre 4 e 7 mil dólares por dia. Assim, na melhor das hipóteses, alguém gastou 24 mil dólares só para manter aquele navio vermelho parado na frente da Praia da Costa.

No dia em que ele chegou contei outros 26 navios parados lá – e computei apenas os mais próximos, descontados aqueles estacionados lá longe, vazios, aguardando o término do inverno do hemisfério norte. No dia em que foi para o porto, deixou outros 24 esperando a vez de atracar. É muito prejuízo, e é assim o ano inteiro. São tantos navios que um estrangeiro amigo meu, passando pela Praia da Costa à noite, pensou tratar-se de um vilarejo, tal a quantidade de luzes que viu no mar.

Eis o que poderíamos chamar de um “engarrafamento de navios”! Este é um problema difícil de resolver: o Porto de Vitória, além de pequeno, não comporta expansão, pois está cercado pela cidade.

Aliás, na cidade também há um engarrafamento – só que de carros. A Terceira Ponte já está sobrecarregada com o intenso e crescente tráfego de veículos entre Vitória e Vila Velha. As reclamações são cada vez mais freqüentes.

Não há fartura de recursos para resolver o problema. Assim, as populações de Vitória e Vila Velha têm ficado ao sabor dos “quebra-galhos”, medidas por vezes inteligentes mas que não resolvem o problema central: a falta de pontes ligando uma cidade a outra.

É importante lembrar que dentro da realidade atual uma ponte entre Vitória e Vila Velha não pode ser daquelas comuns e baratas, pois há que se deixar livre a passagem dos navios que cruzam o canal rumo ao Porto de Vitória.

Eis aí um quadro muito sério. Quanto aos navios parados lá na barra, perde o Brasil e com ele todos nós. E quanto aos veículos a mesma coisa: maior gasto de tempo e combustível, acidentes mais freqüentes, dificuldades para transportar doentes e atender emergências com conseqüentes óbitos (sim, engarrafamentos matam), etc.

Que tal resolvermos esta situação começando pelo porto? A propósito, é difícil de entender como é que um país com 9.198 km de litoral tem portos problemáticos! Logo, a solução é óbvia: coloque-se o porto na costa, fora do centro de uma já grande capital. Simples assim.

O porto poderia ser maior, os custos de praticagem seriam menores, haveria mais espaço para armazenamento de cargas, o engarrafamento de navios praticamente desapareceria e o Brasil deixaria de perder milhões de dólares (e acredite: a eliminação deste prejuízo já pagaria com folga os custos da transferência do porto).

Pronto! Resolvemos o problema dos navios! E o dos carros? Ora, este já estará resolvido: como navios grandes não mais transitarão pelo canal, umas duas pontes curtas, simples e baratas ligando o Centro de Vitória à Glória e o final da Beira-Mar à Prainha praticamente eliminariam os engarrafamentos e os pedágios!

Quanto à área do atual porto, que tal repetirmos a experiência vitoriosa da Argentina com Puerto Madero e da Austrália com Darling Harbor? Antigos portos, situados dentro de cidades, que se transformaram em zonas de turismo com hotéis, centros comerciais e de diversão, etc. – deixaram de ser fonte de problemas para serem fontes de receita!

Diriam alguns: tudo isto é apenas um sonho, pois é difícil e caro mudar um porto – há aspectos orçamentários, questões envolvendo a União, o Estado e o Município, etc. Pode ser. Mas, considerando os milhões de dólares de prejuízos que o Brasil tem com esta situação, vale a pena sonhar! Sim, esta mudança é tão óbvia, tão necessária e tão urgente que vale mesmo a pena sonhar!

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