O problema dos menores e o aviso que vem de fora

Há poucos dias li em A Tribuna uma chocante reportagem sobre menores que são treinados por traficantes para assaltar, sequestrar e cobrar dívidas. Anunciou-se que 1.170 deles foram detidos só neste ano, com idade média de 15 anos.

Chamou-me a atenção, nesta matéria, uma muito séria frase do dedicado Juiz da Infância e da Juventude, Paulo Luppi: “o objetivo é que eles sejam ressocializados em um ano e 45 dias. Nesse tempo, alguns conseguem que os traficantes continuem sustentando suas famílias”.

Ou seja: o tráfico continua entranhado nas famílias destes menores. Quanto a estes, como lamentou o jornalista Pedro Maia, em brilhante escrito, “são encaminhados a instituições de recuperação social, onde, na maioria das vezes, aprimoram seus conhecimentos, se integrando de corpo e alma a bandidagem urbana. Nestas masmorras com roupagem de assistência social nada lhes é dado de positivo para uma mudança do destino que a vida lhes reserva. Muito pelo contrário”.

Eis aí um problema merecedor de amplo debate nacional. Mas assim não pensam nossas elites – afinal, estes menores seriam apenas uns miseráveis, filhos de outros miseráveis, todos moradores de lugares não menos miseráveis. Assim, bastaria escondê-los dentro de alguma masmorra e gastar os recursos públicos com coisas mais importantes, tais como propagandas sobre as nossas belezas e conquistas!

Estaria eu exagerando? Penso que não. Quem se dispuser a examinar de perto os recursos materiais e legais oferecidos aos Policiais, Promotores de Justiça e Magistrados para o enfrentamento desta tão séria questão perceberá logo que eles lá estão quase que por mera formalidade.

Este quadro de negligência não é exclusivo do Brasil. Outros países já relegaram a segundo plano, durante um longo tempo, a questão da criminalidade infantil. Vejam, através de exemplos, como tem sido salgada a conta desta falta de responsabilidade: nos EUA uma criança de 11 anos matou a tiros sua mãe e o bebê que ela esperava, e uma outra criança de oito anos matou o pai e um amigo. Ainda naquele país duas crianças de oito e nove anos foram presas após o estupro de uma menina de 11 anos. Uma outra, de apenas 10 anos, foi violentada por dois meninos de 11 e 12 anos.

Na Inglaterra, três crianças de seis, sete e nove anos foram filmadas e presas tentando bloquear os trilhos de um trem de alta velocidade, só pelo prazer que lhes causava a visão de um horrível acidente com mortes. Ainda naquele país há o incrível caso de uma quadrilha responsável por vandalismo e até atos de caráter sexual composta por 10 crianças entre três e cinco anos de idade. Repito: entre três e cinco anos de idade!

Os casos são inúmeros: uma criança japonesa de 10 anos que quase matou sua professora, o ladrão argentino de cinco anos ou até o assaltante de bancos norte-americano de 13 anos. Imprudentemente, temos ignorado o aviso destes exemplos que vem de fora, e que já começam a chegar aqui – que o diga a vendedora de 32 anos sequestrada por duas crianças de 10 e 12 anos em Bento Ferreira, ou os dois estudantes sequestrados em Cariacica por um menino de 12 anos.

Talvez, achando ingenuamente que este problema está “lá longe, na periferia miserável”, estejamos ignorando o sábio conselho de Leonardo da Vinci: “é mais fácil resistir no início do que no final”.

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