Os EUA são aqui

Dia desses o Brasil, com justificado horror, presenciou o massacre de Orlando, nos EUA, que ceifou a vida de 49 seres humanos. O tema ocupou vasto – e adequado – espaço no noticiário. Afinal, são semelhantes nossos.

Decidi fazer um retrospecto histórico sobre as piores chacinas lá verificadas. No dia 16 de outubro de 1991, 22 pessoas morreram em um restaurante de Killen, no Texas. Aos 20 de abril de 1999, 12 estudantes e um professor foram assassinados a tiros em uma escola de Columbine.

Chegamos a 16 de abril de 2007, quando um estudante coreano matou 32 pessoas na Universidade de Virginia. Uns dois anos depois, aos 5 de novembro de 2009, um psiquiatra matou 13 pessoas em Fort Hood, no Texas.

Nos idos de 2012, aos 20 de julho, um jovem assassinou 12 pessoas em um cinema de Aurora, Colorado. Naquele mesmo ano, no dia 14 de dezembro, um outro matou 26 pessoas na Escola de Sandy Hook, em Newtown (Colorado).

Encerra esta macabra relação o massacre do dia 2 de dezembro de 2015, quando dois elementos dispararam a esmo em um almoço de Natal realizado em San Bernardino, na California, deixando 14 mortos.

Decidi somar todas estas mortes. Cheguei a 181. Tradução: entre 1991 e 2016, as oito mais sangrentas chacinas acontecidas em solo norte-americano ceifaram 181 vidas.

A cada uma dessas chacinas o povo brasileiro, justificadamente chocado, solidarizou-se com a dor das vítimas e de suas famílias.

Enquanto isso, apenas em 2014, 58.559 seres humanos foram vítimas de homicídio no Brasil. Voltei à calculadora – constatei que, por dia, quase que repetimos o total de mortes daquelas chacinas. São 160 contra 181! A cada dia quase alcançamos o que oito massacres levaram 25 anos para produzir!

O mais incrível é que aqui no Brasil fuzis militares e equipamentos de guerra não são vendidos quase que livremente, como ocorre lá nos EUA.

Tente, agora, conversar com alguém sobre estes dados. Na esmagadora maioria das vezes, o diálogo será interrompido, e seu interlocutor tentará, polidamente, desviá-lo para temas menos desagradáveis – afinal, definir o nosso pacífico país como uma terra de chacinas diárias agride o falso patriotismo de alguns tantos que preferem, enrolados na bandeira nacional, com muito orgulho e com muito amor, sonhar com um progresso que jamais virá sem ordem.

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