Quem avisa amigo é?

Dia desses meditava sobre esta frase: quem avisa amigo é. Eu a escuto desde criança. Soube que até música já virou, pelas mãos de Rose Nascimento – sem nos esquecermos de que já foi samba enredo no carnaval de 1988. Mas será a verdade nela contida absoluta? 

Comecemos nossa reflexão por alguns avisos que a administração pública fez espalhar ao longo da orla de Vitória, há alguns anos. Neles via-se um elemento com uma arma de fogo assaltando um transeunte. O aviso era claro: que se tomasse cuidado, pois assaltos ali eram comuns. 

Mais recentemente li, em um jornal do Rio de Janeiro, que cartazes colados em postes denunciam os frequentes crimes em dada região daquela maravilhosa cidade. Os avisos – que mostram o desenho de um boneco de mãos para o alto, tendo uma arma apontada para ele – informam, em inglês e português, que aquela é uma “área de assaltos”. 

Estes dois avisos me trouxeram à memória um terceiro, não menos histórico no Brasil, destinado a informar os motoristas que o trecho à frente estava esburacado. Literalmente, tais placas assim diziam: “Cuidado. Buracos na pista”. 

Este tipo de mensagem não é exclusividade brasileira. Recordo-me de um amigo que ficou parado, no metrô de Lisboa, contemplando uma placa que alertava sobre a presença de batedores de carteira. Enquanto ele lia o gentil aviso, acabou tendo a dele furtada. 

Na Grécia, uma placa colocada no sistema de transporte público de Atenas assim alerta: [nos horários de pico] “pode ser necessário que você deixe outras pessoas sentarem em seu colo”. 

Nos Estados Unidos registrou-se um outro aviso, dirigido a paraplégicos, que reflete incrível sensibilidade: “no final das escadas há um banheiro acessível”. Ainda naquele país descobriram em dado hospital uma singular placa: “favor não utilizar as escadas como banheiro”.  

Há uma terceira, colocada pela administração em um estacionamento: “estupros coletivos são rigorosamente proibidos”. No mesmo sentido vai uma outra, igualmente exposta em local público: “é proibido esfaquear os outros”. 

Veja agora esta placa de trânsito, afixada em uma rodovia norte-americana: “Limite de velocidade: 25 milhas por hora. Não ultrapasse este limite. Nós sabemos onde você mora. Sua casa será queimada até o chão se você ultrapassar em uma milha sequer este limite. Se você valoriza sua segurança e a de sua família, obedeça”. 

Naquele mesmo país, motoristas presos em um engarrafamento leram, em uma daquelas placas eletrônicas colocadas nas rodovias, a seguinte mensagem: “Você nunca chegará a tempo para o trabalho. Ha! Ha!”. 

Transcrevo os dizeres de outra: “Aviso. Crianças abandonadas serão vendidas para o circo”. E encerro a participação norte-americana com um aviso, distribuído pelo Centro de Controle de Doenças, sobre uma “epidemia de zumbis”. Após alertar, em letras vermelhas, inexistir cura para tal estado, o folheto ensinava que “a única maneira conhecida de eliminar um zumbi é destruir seu cérebro”. Seguem as formas sugeridas: a tiros, ateando fogo na cabeça (do zumbi, claro) ou através de pancadas. 

Já na Austrália o aviso foi sonoro: informou-se aos passageiros de um avião que havia cães farejadores de drogas à espera do desembarque daquele voo no aeroporto de Sydney. Segundo testemunhas, registrou-se em seguida ao “alerta” um verdadeiro “estouro de boiada” rumo aos sanitários do avião. 

Finalizo com uma placa afixada diante de uma repartição pública da cidade de Chennai Docks, na Índia: “Por favor, não corrompa ninguém”. 

Pois é. Sendo verdade que “quem avisa amigo amigo é”, ouso perguntar: qual o grau de amizade, estima, ou talvez mesmo respeito, que os responsáveis por tais avisos tem por cada um de nós, enquanto sociedade? 

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