A imagem de um país

Não faz muito tempo seis estudantes japoneses de uma escola da cidade de Gifu viajaram de férias para a Itália, acompanhadas por dois instrutores. Em Florença, enquanto visitavam a bela Catedral Santa Maria del Fiore, viram um pedaço de parede todo rabiscado – turistas de diversas partes do mundo ali tinham escrito à mão seus nomes. As seis jovens nipônicas deram, então, suas contribuições para o emporcalhamento daquela linda igreja, ali escrevendo seus nomes e o do colégio ao qual pertenciam.

Passado algum tempo um outro turista japonês, visitando a mesma catedral, notou os pequenos ideogramas japoneses no meio de tantos rabiscos. Decidiu fotografá-los. Voltando ao Japão, enviou para o colégio daquelas seis estudantes as imagens do que reputou um ato de vandalismo. Tive a oportunidade de acompanhar, através da leitura diária dos jornais The Guardian, do Reino Unido, Japan Today e Asahi, do Japão, o incrível desfecho deste episódio.

Dois dos maiores jornais e uma rede de televisão daquele país exigiram a imediata identificação dos vândalos. Três alunas foram imediatamente identificadas e receberam dois meses de suspensão como penalidade. A direção do Colégio pediu desculpas à Administração da Catedral, e perguntou se poderia enviar as alunas a fim de que elas removessem seus nomes da parede – o que, polidamente, os italianos recusaram.

Os três outros alunos, de uma escola de Kyoto, identificados logo a seguir, se viram frente a uma pena de expulsão. Em seguida, chegou-se a um dos professores que acompanhavam o grupo, o qual foi imediatamente suspenso de suas atividades e acabou frente a uma pena de demissão.

Chamou-me a atenção, neste episódio, a posição clara e firme das autoridades, dos jornais e da população – repudiaram, sob o título de “vândalos”, aqueles alunos e professores, recriminando-os por terem ofendido seus hóspedes e arranhado a imagem do Japão no exterior.

O Japão não é um país perfeito. Tem lá suas graves falhas por corrigir. Mas não se pode negar que, neste episódio, deixou uma bela lição. E assim porque aqui no Ocidente é diferente. Turistas europeus são com freqüência identificados fazendo turismo sexual pelo mundo afora e “fica tudo por isto mesmo”.

Há alguns dias, por exemplo, li na Sky News, do Reino Unido, críticas à omissão do governo de lá em reprimir pedófilos que abusam de crianças no exterior. Denunciou-se que em longos dez anos apenas cinco pedófilos foram reprimidos por crimes praticados contra crianças da Europa Oriental, África e Ásia. Citou-se um exemplo chocante: em 1998, uma professora inglesa que trabalhava com crianças na Tailândia foi condenada a 33 anos de prisão por abusar de garotos. Diante das pressões do governo britânico esta professora acabou deportada de volta para o Reino Unido. Chegando lá, voltou a trabalhar como professora e atualmente leciona para crianças de até cinco anos na China.

No Brasil é pior ainda. Compatriotas nossos que, lá fora, mataram, roubaram, traficaram ou se envolveram em grossas confusões, quando para cá retornam, fugindo ou deportados, são recebidos com a maior das curiosidades, acabam virando celebridades e ganhando seus “15 minutos de fama”!

As conseqüências desta nossa atitude complacente foram noticiadas a nível mundial pela BBC: em 2005 Eri Yamoka estava indo almoçar com o marido e a filha Riko, de 2 anos. Em um cruzamento, um veículo ultrapassou o sinal e bateu no carro deles. A pequena Riko morreu na hora. A motorista, uma brasileira, fugiu para cá. Eri, Hiroaki e 700 mil japoneses pediram providências ao governo brasileiro. Recentemente, criaram a “Associação das Vítimas de Crimes Cometidos por Brasileiros”, planejando lutar contra a impunidade dos que lá assaltam, estupram e matam e vêm se refugiar no Brasil.

O fato é que deveriam os países, no mínimo, cassar os passaportes daqueles que os desonram cometendo crimes no exterior e atraindo sobre seus compatriotas discriminações humilhantes. Afinal, como dizia Goethe, “o procedimento é um espelho em que cada um mostra a sua própria imagem”.

Enviar por e-mail Imprimir