A psicologia pode mudar o mundo

Há alguns dias fui a uma cerimônia de formatura do curso de psicologia. Chamou-me a atenção, durante a solenidade, o entusiasmo quase que juvenil dos novos psicólogos e a disposição, estampada na face de cada um deles, de querer “mudar o mundo”.

Mundo que, aliás, anda precisando mesmo deles! Comecemos pela Índia, país no qual dois pilotos de avião decidiram trocar socos e pontapés em pleno vôo, deixando apavorados os pobres passageiros. Ainda naquele país descobriram recentemente um cidadão, conhecido como Singh Kallu, que não toma banho desde os idos de 1973 – para limpar-se ele fica alguns minutos a cada dia em frente a uma fogueira. Já na Nova Zelândia foi localizada uma criança registrada pelo pai com o nome de “Talula Does The Hula From Hawaii” (traduzido: Talula Dança a Hula do Havaí). Falando em nomes, no México um pai batizou o filho com o nome de “Brhadaranyakopanishadvivekachudamani Erreh Muñoz”. Na Nigéria, registrou-se o caso da passeata de protesto das 86 esposas de Bello Masaba, preso por poligamia. Na França, descobriram um casal de velhinhos que vivia em um apartamento com 64 cachorros.

O mais sério, porém, é que representantes desta categoria de gente conquistam cargos e funções públicas. Que o diga a população de Sarpourenx, na França, proibida de morrer por ordem do prefeito municipal, em função de uma crise de vagas no cemitério local. Já no Butão os membros do Congresso Nacional foram proibidos de usar computadores – havia o receio de que eles perdessem tempo com joguinhos. E nas Filipinas o juiz Florentino Floro anunciou que só decidia processos com a ajuda de três duendes: Armand, Luis e Angel. Na Austrália, um policial revolveu multar o taxista Kidd Moors por estar dirigindo de meias curtas, o que ele reputou deselegante. Enquanto isso, vítima de todos estes desajustes, a população vai sofrendo em silêncio.

Há também o reflexo nos profissionais do setor privado. Que o diga Steve Valdez, impedido por um funcionário de um banco norte-americano de retirar uma dada quantia por não ter podido fornecer sua impressão digital – o pobre Steve é aleijado, e não tem os dois braços! E para concluir um advogado norte-americano foi multado recentemente por latir durante um julgamento.

O que faz todos estes casos serem menos engraçados é que seus protagonistas estão por aí, interagindo normalmente com o restante da humanidade e em alguns casos até liderando-a – afinal, conforme o ensinamento de Frate, “os loucos são assim mesmo, nunca acham que estão doidos”.

É aí que assumem especial importância os profissionais da saúde da mente – que podem, sim, mudar o mundo. Imagine-se o impacto da participação ativa da Psicologia na seleção de profissionais dos setores público e privado, autoridades incluídas! Calcule-se o quanto ganharia a humanidade se psicólogos identificassem e auxiliassem cada trabalhador desmotivado ou mesmo deprimido. Imagine-se o impacto positivo sobre a educação caso houvesse um serviço psicológico eficiente nas salas de aula! Na Inglaterra, nove a cada dez presos padecem de desordens mentais – a partir daí pense na revolução que psicólogos poderiam fazer nas prisões do planeta!

O fato é que se nossos conhecimentos sobre a mente humana fossem mais amplamente utilizados William Shakespeare não teria exclamado, com razão, ser “uma infelicidade da época que os doidos guiem os cegos”.

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