A venda da dignidade

Dia desses conversava com um amigo sobre o que se pode comprar e vender no seio desta humanidade tão avançada que já foi à Lua e quer ir a Marte. Resolvi realizar uma pequena pesquisa em meu banco de dados a este respeito.

Comecei encontrando o seguinte anúncio: “Comerei um punhado de ração para gatos seca por US$ 5. Por apenas um dólar a mais traçarei duas colheres de sopa de ração molhada. Registrarei tudo, ou posso fazer isto ao vivo via Skype. Por apenas mais um dólar extra gravarei tudo em alta definição”.

O “serviço” seguinte era igualmente deplorável: “Eu flertarei com seu marido ou esposa, namorado ou namorada, para comprovar se eles realmente são comprometidos e fiéis. Se você suspeita de algo descubra a verdade. Assim você não precisará contratar um investigador particular ou mesmo xeretar por aí”.

Descobri uma outra propaganda que assim dizia: “Seu chefe o irritou? Não está suportando alguma atitude de sua esposa? Quer desabafar? Aqui está a chance de expressar seus pensamentos da forma mais vulgar e rude possível. Ofenda-me onde machuca, e eu serei seu saco de pancadas por cinco minutos ao telefone”. Se você não tiver algum telefone à mão vá a um restaurante no qual é permitido aos fregueses xingar os pobres garçons dos piores palavrões possíveis.

Um outro elemento se propunha a vestir botas cheias de catchup ou mostarda, ao gosto do freguês, andando com elas por aí durante cinco minutos para deleite geral. E que dizer de um cidadão que se propunha a xingar o comprador dos seus serviços ao longo de cinco minutos, imitando a voz de Harry Potter?

Deparei-me com outro “serviço” assim anunciado: “Você odeia seu chefe? Seu namorado ou namorada está sendo infiel? Algum idiota roubou algo de você? Ponha uma praga sobre ele! O melhor sistema de gerenciamento de maldições que jamais existiu. O que você está esperando?”

A “prestação de serviços” seguinte consistia em cobrar para levar uma surra. O “consumidor” estabelecia a intensidade da surra, em uma escala de 1 a 10, e ficava assistindo algum amigo aplicá-la. O preço variava em função da força e da quantidade dos tabefes dados.

Não menos chocante foi o anúncio que encontrei em outro jornal: “Deixe-me fazer um vídeo de um minuto anunciando seu evento, loja, produto, etc., de uma forma engraçada como um pregador. Eu falarei como um pregador, com toda a dicção típica”. Em seguida, este “profissional” esclarece que estará vestido com uma camisa branca e um casaco negro, de forma a parecer o mais autêntico possível.

Há também o caso de um cidadão que, por módicos US$ 5, compromete-se a pular feito um louco vestindo uma fantasia de galinha. E o de uma empresa que faxina a sua casa por US$ 100 a hora fazendo uso de domésticas absolutamente nuas – aliás, para quem não puder pagar, o “pacote” básico contempla apenas uma arrumadeira vestindo roupas íntimas.

O fato é que tem de tudo. Vi até a contratação de uma “profissional” cuja função é aplicar um “pescoção” em algum funcionário desatento. Funciona assim: o dito cujo se distrai um pouco diante do computador e recebe imediatamente um tabefe na nuca.

Diante destes, e de tantos outros casos que encontrei – não enumerei aqui sequer a metade da lista – fiquei a meditar sobre uma humanidade na qual até vender a dignidade é permitido, desde que os tributos respectivos sejam devidamente recolhidos. E lembrei-me do Apóstolo Paulo: “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”.

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