As penas da Idade Média

Dizem alguns que as penas criminais aplicadas durante a Idade Média foram as mais crueis e desumanas jamais concebidas pela humanidade. Era a época inclemente da Santa Inquisição – e infeliz de quem se visse às voltas com o sistema judicial. O impressionante é que a aplicação de tais penas era acompanhada pela população com vivo interesse – e por vezes era ela a pedir rigor para com os acusados.

Imagine, por exemplo, uma robusta passeata exigindo que um suspeito de pedofilia fosse empalado – ou seja, que lhe fosse introduzida no ânus uma haste até que sua ponta aparecesse na boca.

As pavorosas crucificações foram aprimoradas. Pense em um condenado morto na cruz. Em seguida, sob as vistas de uma multidão, que o dito cujo seja esquartejado. Quer mais? Que os pedaços de seu corpo sejam enfiados em estacas, espalhadas pelas ruas da cidade, a fim de que toda a população fique consciente do que houve.

Em tempos de barbárie, o abjeto ato de fazer justiça pelas próprias mãos torna-se algo rotineiro. Pesquisas indicaram que a média de linchamentos por semana nas maiores cidades chegava a quatro. Abusos? Nem pense nisso! Li uma pesquisa demonstrando que ao cabo de 20 mil desses linchamentos uma única pessoa foi levemente punida.

Até mesmo pequenas infrações, em tempos de intolerância, merecem penas corporais. Assim, por exemplo, ao ato de escrever algo contra alguém em algum bem público correspondem umas tantas chicotadas ou uma surra de vara.

Quando as chicotadas a serem aplicadas eram muitas, a tática era o parcelamento. Poucas chicotadas de cada vez, seguidas de tratamento e tempo de recuperação em alguma masmorra. Assim alguns condenados chegavam a suportar penas longas, de centenas de chicotadas no lombo.

Não nos esqueçamos da clássica cena das fogueiras consumindo seres humanos. Esta a pena reservada para, por exemplo, mulheres que ousassem transgredir os rígidos padrões morais da época. Isto ou então o apedrejamento, em sua forma mais grotesca, feito em praça pública e com a participação de uma animada parcela da população.

E os doentes mentais? Nem esses escaparam! Com uma detalhe: eles tinham que compreender os motivos e a extensão das penas impostas. Entrou para a história o caso do débil mental condenado à morte e tratado com todo o carinho até que ficasse são o suficiente para compreender que seria executado.

Os suplícios iam além do imaginável – uma das formas sutis de proporcionar um sofrimento adicional ao condenado era não revelar nem a data nem a hora em que seria executado. Poderia ser em questão de minutos, horas, dias, semanas ou anos – quem sabe? Calcule a extensão do tormento mental imposto!

Quer levar um susto? Todas as penas acima descritas foram, e continuam sendo, aplicadas em nossos dias. Envergonham, respectivamente, Rússia, Arábia Saudita, Brasil, Singapura, Irã, Paquistão, Estados Unidos da América e Japão. Sim, esta barbárie não é a da Idade Média – é a dos nossos dias, da nossa geração.

Ainda mais surpreendente é que, na era das comunicações, só soube destes casos lendo jornais locais – e no mais das vezes sob a forma de “notinhas de canto de página”.

Mas me desculpem – li que está para estourar outro escândalo, envolvendo o divórcio de uma atriz norte-americana. Assim, encerro este texto para ir me inteirar sobre tal fuxico.

Enquanto isso, lá no deserto, ecoa a voz de Thomas Jefferson: “temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo”.

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