As prisões não funcionam

Dizem, aqui no Brasil, que as prisões dos Estados Unidos são um modelo de disciplina e segurança. Há algum tempo chegaram a exibir uma fotografia do presidente norte-americano sendo revistado na entrada de uma delas.

Ouso, no entanto, mesmo diante de todo este rigor, arriscar uma pergunta simples: este sistema está funcionando? Fiquei a pensar nisso diante do caso de Neil Lansing, detento de uma prisão da Florida. O dito cujo portava, no interior de sua cela, 17 pílulas de uma droga altamente viciante, um cigarro, seis isqueiros, uma pedra de corte, uma seringa, uma embalagem de batom, um preservativo e dois documentos – tudo escondido dentro de seu ânus!

No Texas, uma senhora de nome George Vera conseguiu levar para dentro do presídio no qual cumpria pena nada menos que uma pistola. O esconderijo? Uma dobra de sua espessa capa de gordura – ela pesa nada menos que 227 quilos.

Em New Jersey três detentos costumavam receber lindos desenhos de seus filhos. E eis que alguns guardas começaram a observar que logo em seguida os mesmos ficavam anormalmente sossegados. Uma rápida investigação descobriu que aqueles inocentes desenhos eram feitos com tinta à base de heroína.

Na Penitenciária de Segurança Máxima de Miami o esquema era outro. Os advogados dos chefões do tráfico entravam nas prisões com prostitutas disfarçadas de assistentes. E era assim que a monótona vida da prisão era animada com festas regadas a “strip-tease”, álcool, revistas pornográficas e dinheiro à vontade.

De Los Angeles vem o caso de Henry Marin, um guarda de presídio que chamava a atenção pela dedicação dispensada a alguns presos, que sempre presenteava com o conhecido prato mexicano conhecido como “burrito”. Mas eis que, como seus colegas não eram burros, desmontaram o tal do “burrito” e encontraram lá dentro heroína pra burro…

Há também o incrível caso de Michael Leon Ward, de North Carolina, apanhado no interior de sua cela com um revólver calibre 38 escondido dentro do ânus! Os policiais manifestaram alívio pelo fato de a arma estar descarregada.

Já no Colorado um pai inventou uma interessante maneira de contrabandear heroína para o filho, que estava preso. Donald Denney simplesmente encheu a boca de drogas e planejava passá-las para o filho através de um beijo na boca, durante o horário de visitação.

Pois é. Enquanto tudo isso acontece os EUA tem 2,3 milhões de pessoas atrás das grades. Um em cada 37 norte-americanos está ou já esteve em alguma prisão, e incríveis 2,7% da população “tinha experiência com cadeias”. Detalhe: só foram computados nesta pesquisa os condenados. Nos EUA, para cada grupo de 100 mil pessoas, 762 estão presas – contra apenas 108 no Canadá, por exemplo, cujas taxas de criminalidade são sensivelmente mais baixas.

Vamos lá: a taxa de homicídios nos EUA é umas quatro vezes superior à do Canadá. Quer mais? O número de assaltos a mão armada nos EUA é cerca de três vezes e meia superior ao número registrado no Canadá.

Estes fatos e números demonstram o quão pouco sabemos sobre o fenômeno da criminalidade, bem como sobre a melhor maneira de se lidar com os diversos tipos de criminosos que flagelam a humanidade.

O fato é que as prisões como as conhecemos são uma ideia recente. Fico a me perguntar se não foi uma ideia que deu errado. E se já não passou da hora de, sem hipocrisia ou radicalismos, iniciar-se um amplo debate sobre, afinal, como devemos combater e prevenir o crime.

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