Bengal Gazette

James Augustus Hicky nasceu na Irlanda, por volta de 1740. Nos idos de 1772 decidiu ir para a Índia tentar a sorte. Lá chegando, montou um pequeno negócio que, no entanto, fracassou quatro anos depois – e ei-lo preso em Calcutá, por conta de dívidas.

De dentro da prisão, este intrépido irlandês decidiu começar um novo negócio, que desaguaria naquele que seria o primeiro jornal da Índia. Com a ajuda de um amigo, conseguiu uma impressora. E ei-lo trabalhando, segundo consta das seis da manhã às duas da madrugada, ganhando dinheiro como gráfico.

Passados alguns anos, Hicky foi solto – e decidiu, então, iniciar a jornada que o imortalizaria, lançando o “Bengal Gazette”. Imagine-se o impacto desta iniciativa em um país no qual as notícias ainda eram transmitidas de “boca a boca”. O primeiro exemplar chegou às ruas no dia 20 de janeiro de 1780, prometendo “rígida fidelidade à verdade e aos fatos”.

Este veículo pioneiro não se limitava a divulgar notícias de interesse dos europeus – e muito pelo contrário! Mergulhava fundo na realidade miserável das periferias. Narrava os dramas vividos pelos oprimidos. Denunciava a brutalidade e a corrupção dos colonizadores britânicos. E foi assim que Hicky começou a incomodar.

A primeira reação veio através da fundação de um jornal concorrente que, graças aos subsídios dos empresários britânicos, era distribuído gratuitamente. Em seguida, o governo simplesmente proibiu que o jornal de Hicky fosse distribuído pelos Correios.

O passo seguinte era previsível: o jornal foi processado por ativismo e seu proprietário preso. Apesar de estar no cárcere, Hicky não se acovardou: continuou publicando seu diário, denunciando as torpes tentativas de calá-lo.

Hicky acabou condenado a um ano de prisão, e teve a impressora de seu jornal confiscada pelas autoridades. Solto posteriormente, porém na miséria, ele mal tinha recursos para sustentar-se e à sua família. Acabou indo para a China, onde morreria em 1802 – na pobreza.

Dizem alguns que de lá para cá tudo mudou, e que hoje vivemos em plena “era da informação”. Deve ser verdade, claro! Enquanto isso, cá fico a pensar no pobre Hicky! Deve estar a contemplar o mundo de hoje, com aquela serenidade que só a certeza do dever cumprido proporciona – e com saudades imensas do seu heróico jornal!

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