Erro amazônico

Dia desses li que a famosa empresa norte-americana Amazon conseguiu um feito histórico: tornar-se a segunda empresa daquele país a alcançar o valor de mercado de um trilhão de dólares.

Se esta empresa fosse um país seria a 17ª maior economia do mundo, superando países como a Turquia (851,1 milhões de dólares) e Argentina (637,6 milhões de dólares). Equivaleria a praticamente o dobro do Chile (277 milhões de dólares) e de Portugal (217,6 milhões de dólares) somados. Empataria com a Indonésia (1 trilhão de dólares) e quase com o México (1,1 trilhão de dólares). E responderia por metade do Brasil (2 trilhões de dólares).

Diante destes números fiquei a meditar longamente sobre um aspecto pouco comentado, mas que reputo fundamental: trata-se de uma empresa que, por sua natureza, poderia ser brasileira – ao fim do cabo, temos acesso à mesma tecnologia que a viabilizou.

Há, na Europa, diversas empresas que exportam café para o Brasil, malgrado lá não exista um único pé de café. Fico a pensar que estes empreendimentos bem que poderiam ser brasileiros, dado termos acesso – e até mais fácil – à tecnologia e matéria-prima por eles utilizados.

Outras empresas, europeias e norte-americanas, exportam chocolate para o nosso país, apesar de em seus países não existir um único pé de cacau. Não posso deixar de ponderar que todas elas poderiam, claro, ser de brasileiros!

Não nos esqueçamos daquelas transnacionais que aqui estão a nos vender a água de nossas nascentes e o leite de nossas vacas, remetendo para seus países de origem verdadeiras fortunas a título de remessas de lucros. Quero crer que o nosso país contemple tecnologia suficiente para engarrafar água e pasteurizar leite – sim, com certeza temos capacidade suficiente para isso.

Estamos a falar, nestes e em outros exemplos, de empresas valiosíssimas, que proporcionam aos seus respectivos países vigoroso impulso econômico. Pois é. Tudo isto poderia ser brasileiro – mas preferimos sufocar nosso povo, tão empreendedor e criativo, com as amarras da burocracia, da corrupção impune, da criminalidade ostensiva e da falta de infraestrutura.

Talvez, cegos pelo provincianismo e seu filho primogênito, o extrativismo, estejamos negligenciando a sábia lição de Câmara Cascudo: “o melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”.

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