Coisas que só acontecem no cinema

Há poucos dias conversava eu com um dileto amigo sobre o enredo de um dado filme. Lá pelas tantas, ouvi dele uma curiosa frase: “são dessas coisas que só acontecem no cinema”. Ao ouvir estas palavras recordei-me de Eça de Queiroz, segundo quem “a arte é um resumo da natureza feito pela imaginação”. É verdade: a realidade supera, e em muito, os maiores delírios que a imaginação humana já colocou nas telas do cinema.

Por exemplo: em Chicago, nos Estados Unidos, uma velhinha de 90 anos manteve espalhados pela casa os corpos de seus três irmãos. A Polícia estimou que um deles havia falecido há 28 anos. Diante disto, como fica real e até insosso o filme Psicose!

Enquanto isso o Prefeito de Sarpourenx, uma cidade da França, proibiu por decreto a morte de pessoas que não tivessem um lote no cemitério. Decreto similar foi editado em Lanjaron, na Espanha, devido ao atraso das obras de ampliação do cemitério local: “Está proibido morrer em Lanjaron. Os infratores responderão pelos seus atos”. Diante destas pérolas, como diminuem de tamanho as extravagâncias de Odorico Paraguaçu, personagem imortal criado pela imaginação de Dias Gomes.

Há também o caso dos dois ladrões que compareceram a um banco de Nova York acompanhados de um morto tentando descontar um cheque deste. As câmeras de vigilância captaram a inacreditável cena dois dois larápios entrando na agência abraçados com o defunto. Eis aí algo que, ressalvadas as comédias, cineasta algum concebeu como possível.

Ainda sobre bancos, um elemento decidiu assaltar uma agência de New Hampshire (EUA) fantasiado de árvore. Assim, as pernas viraram as raízes, o tórax o tronco, os braços os galhos e o alto da cabeça a folhagem. A única parte que ficou de fora foi exatamente a face, que, registrada pelas câmeras de segurança, permitiu a identificação do assaltante. Convenhamos: nem os desenhos animados mais psicodélicos conceberam uma cena dessas!

Não menos curiosa foi a paranóia de um ladrão canadense preso após furtar inacreditáveis 2.865 bicicletas. A Polícia de Toronto relatou que várias garagens foram alugadas para esconder tantas bicicletas. Imagine uma situação dessas retratada em algum filme – quem acreditaria que isso foi real?

Há também as comédias sobre crianças travessas. Exageradas? Pense duas vezes. Uma criança alemã de 8 anos de idade, revoltada por ter sido expulsa da sala de aula, furtou as chaves do carro da professora e saiu dirigindo pelas ruas até causar um acidente. Pior do que esta foi uma outra criança, norte-americana, de apenas 11 anos de idade, surpreendida ao volante pela Polícia do Alabama a mais de 160 km/h, e totalmente embriagada!

E as coincidências? Todo filme que se preze tem que ter alguma, só para que o público tenha o prazer de dizer que “isto só acontece no cinema”. Será? Ali no Rio Grande do Sul uma senhora de 67 anos morreu atingida pelo caixão de seu companheiro, a caminho do velório. E na Dinamarca registrou-se o caso de um cidadão que morreu atropelado ao tentar atravessar uma avenida – três horas depois seu irmão gêmeo morreu no mesmo lugar, também atropelado!

Estrepolias no trânsito? Esqueça os filmes! A realidade é muito mais excitante, conforme provou um inglês que dirigiu centenas de quilômetros na contramão de uma das mais movimentadas estradas do Reino Unido a mais de 200 km/h. E que dizer do russo que, bêbado, furou uma blitz, atropelou um policial e dirigiu mais de 1 quilômetro com ele agarrado ao vidro dianteiro?

Quem não se lembra de Al Pacino no filme Perfume de Mulher dirigindo um carro, apesar de ser cego? Fantástico demais? Que nada! Há poucos meses um francês foi parar na cadeia por ter dirigido um carro sendo cego e estando bêbado. Caso inédito? Não: em 2006 um inglês foi preso nas mesmas condições. E em 2007 a Polícia da Estônia surpreendeu duas vezes em um único mês um outro cego, embriagado, conduzindo um veículo em alta velocidade pelas estradas daquele país!

Diante de todas estas loucuras que a raça humana produz, se um personagem de cinema ou de desenho animado ganhasse vida talvez dissesse, rindo gostosamente, que a realidade é o absurdo da ficção.

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